Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 17 de novembro de 2012

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O presidente da república do Equador Rafael Corrêa esteve no auditório da Universidade Pablo de Olavide em Sevilha para uma conferência de imprensa com o fim de explicar como o Equador saiu da crise, falando à margem da XXII Cimeira Ibero-americana.

Como o auditório não conseguiu acolher todos os que pretendiam ouvir a conferência, foi necessário recorrer a outras três salas, mesmo assim insuficientes, para através de vídeo poderem assistir à comunicação de Rafael Corrêa.

O presidente do Equador considerou que o problema do seu país começou na década 70 do século passado, quando o seu país iniciou a extracção de petróleo. Nesses anos o equador cresceu a 10% ao ano, um ritmo superior ao da China, o que permitiu, devido a excesso de liquidez, a compras no mercado internacional, de mercadorias, umas necessárias, a maior parte não, apoiadas por empréstimos internacionais com o aval do FMI, Banco Mundial e de bancos internacionais com uma política de endividamento agressiva.

Em 1982 o Equador viu-se incapaz de pagar a factura do endividamento e a situação explodiu, entrando a lógica do FMI que considera prioritário o pagamento de toda a dívida. Os governos do Equador viram-se na necessidade de criar novos endividamentos para pagar os juros, a taxas cada vez mais elevadas, de uma dívida que continuava a crescer.  "O objectivo da economia passou a ser o pagamento da dívida do próprio estado e dos bancos, enquanto a população ia empobrecendo", afirmou Rafael Corrêa, no momento que os estudantes presentes começaram a aplaudir a intervenção, e acrescentou "o círculo infernal em que estão agora a Grécia e Portugal", não mencionado a Espanha por cortesia com o país anfitrião.

No Equador, considerou o presidente, "a dívida privada interna (dos bancos) foram pagos com base em empréstimos externos, mas à custa do endividamento do Estado." Recordou que há dois anos em visita a Portugal alertou o Governo Português de José Sócrates que a mesma situação iria ocorrer, um prognóstico que se cumpriu.

A seguir Rafael Corrêa continuou a enumerar o trajecto do Equador, "Foram as privatizações, as desregulamentações e os cortes sociais, apoiados pelo consenso de Washington, a Bíblia do neoliberalismo na América Latina. Impuseram-nos leis, que impulsionavam a competitividade e a flexibilidade no trabalho, o mesmo que dizer, explorar os trabalhadores, diabolizavam a despesa pública quando era para pagar aos professores, mas não para comprar armas”. Os estudantes continuavam a aplaudir com mais clamor.

E assim se chegou ao ano 2000, altura em que faliram 16 bancos e continuou. "Então, os políticos, que não representavam o povo, mas sim os poderes económicos fizeram o melhor que sabiam fazer, por as pessoas a pagar a crise".

O presidente do Equador  asseverou que o país conheceu pela primeira vez o fluxo maciço de emigração, com milhares de equatorianos a procurarem no estrangeiro um emprego que os permitissem sobreviver.

Corrêa criticou a independência do Banco Central Europeu que não está a fazer o necessário para a Europa sair da crise. "A ideia de que a economia não é política, disse ele, não pode resistir a uma análise séria e é insensato afirmar que os tecnocratas tomam decisões sem interesses políticos específicos, como se fossem seres celestiais que não estão contaminados pelas maldades terrenas. A burocracia financeira internacional quando toma decisões não é a pensar em resolver o vosso desemprego, está considerando apenas pagar a dívida"

Com o desenrolar da conferência e com o apoio dos estudantes presentes, Rafael Corrêa ia ficando mais contundente. “Pessoas sem casa e casas sem gente” recordando o que tinha visto de manhã em Sevilha, “segue-se a lógica dos poderes financeiros e vai-se chegar aos piores dos mundos possíveis, em que as pessoas não têm casas e os bancos carregados de casas que não necessitam. Os despejos são desumanos, não há lógica que alguém devolva a casa, por não poder pagá-la, continue endividada para o resto da vida”.

Rafael Correa foi eleito presidente do Equador em 2007, tomou de imediato medidas para inverter o rumo do país para a catástrofe económica: reformou o banco central, auditou e reestruturou a dívida, eliminou a parcela considerada ilegítima pelos auditores e comprou as obrigações de dívida do Estado aos credores por 35% do seu valor nominal. Em seguida, pagou a parcela restante.

Correa terminou recordando que "expulsei de Quito a missão do Banco Mundial e há seis anos que a burocracia financeira internacional não voltou para o meu país. Agora estamos melhor do que nunca." Baía da Lusofonia

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