Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Vampiros

No céu cinzento sob o astro mudo
batendo as asas pela noite calada
vêm em bandos com pés veludo
chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
e lhes franqueia as portas à chegada
eles comem tudo eles comem tudo
eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo eles comem tudo
eles comem tudo e não deixam nada
A toda a parte chegam os vampiros
poisam nos prédios poisam nas calçadas
trazem no ventre despojos antigos
mas nada os prende às vidas acabadas
São os mordomos do universo todo
senhores à força mandadores sem lei
enchem as tulhas bebem vinho novo
dançam a ronda no pinhal do rei
Eles comem tudo eles comem tudo
eles comem tudo e não deixam nada
No chão do medo tombam os vencidos
ouvem-se os gritos na noite abafada
jazem nos fossos vítimas dum credo
e não se esgota o sangue da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
e lhe franqueia as portas à chegada
eles comem tudo eles comem tudo
eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo eles comem tudo
eles comem tudo e não deixam nada
José Afonso - Portugal








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