SÃO PAULO – A proposta que o
Mercosul deverá apresentar à União Europeia (UE) na última semana de novembro
de 2015 constitui um passo decisivo para o futuro do próprio bloco, que, 24
anos depois de sua criação, mantém-se num estágio de inércia que só o tem
desgastado como união aduaneira, sem conseguir definir uma agenda comum de
atuação.
Desde o ano 2000, Mercosul e
UE discutem um acordo de livre-comércio, esbarrando em dificuldades, como a
redução de tarifas de importação e incompatibilidades nas normas sanitárias e
industriais. Mas, agora, o acordo se tornou ainda mais importante para os dois
blocos, em razão do recente tratado comercial firmado entre os Estados Unidos e
mais onze países da costa do Pacífico, a chamada Parceria Transpacífico (TPP).
Se chegar finalmente a um
acordo com a UE, o Mercosul dará uma demonstração clara da vontade de seus
membros de se integrarem no mundo, saindo do isolamento em que se encontram. Se
as negociações malograrem, com certeza, o Mercosul estará condenado a aderir às
imposições que no futuro a UE e os demais mega-acordos haverão de formular, sem
poder participar de maiores discussões.
Até porque, em breve, a UE
deverá chegar a um acordo também com os EUA, formando a chamada Parceria Transatlântica
(TTIP), apesar dos protestos que se sucedem especialmente na Europa contra o
que já é chamado de “mercado único”. Como se sabe, as tarifas entre EUA e UE já
são bastante baixas e, se sair, esse acordo haverá de configurar as modalidades
do futuro comercial do mundo. Como nesse acordo estarão incluídos os principais
competidores na área do agronegócio de Brasil e Argentina, ou seja, Estados
Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, para o Mercosul restará uma posição
subalterna e a perda de mercados tradicionais.
Hoje, a América Latina está
dividida por diferentes visões políticas, econômicas e sociais, o que tem
impedido o continente de encontrar um projeto de desenvolvimento próprio, como
mostra a adesão de Chile, Peru e México à TPP. E o governo brasileiro tem
grande parcela de culpa nessa situação, já que ficou, nos últimos anos, sem
investir na política externa e só o fez agora simplesmente por falta de
alternativa. Ou seja, com o Mercosul parado no tempo – e o Brasil representa
70% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco –, o espaço perdido foi ocupado por
outras nações e blocos.
Em outras palavras: o Brasil
e o Mercosul necessitam de mais mercado, o que só será possível com a
formalização de novos acordos, tornando ainda mais vital a reaproximação com os
EUA empreendida pelo atual governo brasileiro. Afinal, formalizada, mesmo sem a
China, a TTIP vai abarcar 75% do comércio de bens no planeta. Milton Lourenço – Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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