A agência da ONU para Infância, Unicef, afirma ser urgente investir em estratégias voltadas à alfabetização de crianças e adolescentes, incluindo aquelas que não conseguiram aprender na pandemia e ficaram para trás. O número subiu desde a última avaliação, em 2019, antes da crise sanitária
Quando
milhões de meninas e meninos voltam às aulas no Brasil, a agência da ONU para
Infância, Unicef. faz um alerta: mais da metade das crianças do 2º ano do
Ensino Fundamental da rede pública não está alfabetizada no Brasil, segundo os
dados disponíveis.
Para
a Unicef, a alfabetização, etapa fundamental da trajetória escolar de crianças
e adolescentes, precisa ser uma prioridade em todos os municípios brasileiros.
Reflexo da pandemia de Covid-19
Assim,
a agência avalia que é urgente implementar as ações previstas no Compromisso
Nacional Criança Alfabetizada, lançado em 2023 pelo Ministério da Educação, que
procura assegurar que 100% das crianças brasileiras estejam alfabetizadas ao
final do 2° ano do Ensino Fundamental.
Segundo
o recente Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, 56,4% das crianças
nesta etapa de formação na rede pública não atingiram o nível esperado de
alfabetização. Isso contribui para um número expressivo de alunos em todo o
país que frequentam a escola sem dominar a leitura e escrita.
O
cenário, que já preocupava antes da pandemia de Covid-19, agravou-se ao longo
dela. Em 2019, 39,7% de crianças não estavam alfabetizadas no 2º ano do Ensino
Fundamental na rede pública.
Segundo
a agência da ONU, o agravar das estimativas leva a uma crise urgente, que
precisa ser enfrentada em cada município brasileiro, com apoio de todos os
estados e do Governo Federal.
Trajetória escolar
Na
avaliação da chefe de Educação da Unicef no Brasil, Mónica Dias Pinto, ciclos
de alfabetização incompletos têm um impacto significativo na trajetória escolar
de crianças e adolescentes, resultando em reprovações e abandono.
Ela
destaca que a falta de capacidades de leitura e escrita dificulta a aprendizagem
e o acompanhamento das atividades escolares. Para Mónica Dias Pinto, os
estudantes, ao enfrentarem repetidas reprovações, muitas vezes abandonam a
escola. Até podem tentar retornar, mas acabam acumulando atrasos académicos.
A
representante da Unicef afirma que a ausência de oportunidades de aprendizagem
torna-se um fator determinante para a saída definitiva desses alunos do sistema
escolar.
Propostas para reverter o cenário
A
Unicef aponta que para enfrentar esse desafio passa por duas estratégias
principais e urgentes, que precisam ser implementadas em paralelo.
A
primeira é investir em práticas pedagógicas de qualidade, voltadas à
alfabetização das crianças que estão a chegar agora aos primeiros anos do
Ensino Fundamental, para que aprendam a ler e escrever na idade certa.
A
segunda é implementar propostas de recomposição das aprendizagens voltadas a
aqueles estudantes que não aprenderam a ler e escrever até ao 2º ano do Ensino
Fundamental, e agora precisam de um apoio específico para aprender, recuperar o
tempo perdido e avançar.
As
duas propostas são parte do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que
ainda procura recompor as aprendizagens, com foco na alfabetização de 100% das
crianças matriculadas no 3°, 4° e 5° ano afetadas pela pandemia. Até ao final
de 2023, 100% dos Estados e mais de 90% dos municípios haviam aderido ao
programa.
A
chefe de Educação da Unicef no Brasil acredita que é essencial acompanhar de
perto a implementação desse programa, avaliando as propostas de alfabetização
que estão sendo desenvolvidas em cada município e os resultados concretos delas
na redução do analfabetismo no país.
Como recuperar a aprendizagem de quem ficou para trás?
Para
contribuir no desenvolvimento e na implementação de boas práticas voltadas à
recuperação da aprendizagem, a Unicef e parceiros contam com a estratégia
Trajetórias de Sucesso Escolar, em parceria com Secretarias Estaduais de
Educação.
O
objetivo é facilitar um diagnóstico amplo sobre a distorção idade-série e o
fracasso escolar no País, e oferecer um conjunto de recomendações para o
desenvolvimento de políticas educacionais que promovam o acesso à educação, a
permanência na escola e a aprendizagem desses estudantes.
Dados de alfabetização
O
Sistema de Avaliação da Educação Básica é uma avaliação realizada pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Inep, a
cada dois anos para avaliar o desempenho de estudantes em língua portuguesa,
matemática e outras disciplinas no 2º, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e no
3º ano do Ensino Médio.
O
Ministério da Educação e o Inep estabeleceram, em 2023, a pontuação que define
uma criança alfabetizada: 743 pontos.
A
definição da pontuação é resultado da pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada com
251 professores alfabetizadores das cinco regiões brasileiras e das 27 Unidades
da Federação e especialistas durante os meses de abril e maio de 2023 com o
objetivo de identificar o conjunto de capacidades de leitura e escrita
esperadas ao fim do segundo ano do Ensino Fundamental. ONU News – Nações Unidas
com “Unicef Brasil”
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