Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Galiza – ARRIVAgaL Os tempos som chegados

No ano 411 umha invasom sueva provocou a constitui- çom, no extremo noroeste da Península Ibérica, do primeiro reino independente do Ocidente Europeu, marcando o início da queda do poderoso Império romano. A pegada deste Império foi tam grande que os novos dominadores assumírom a língua, a cultura e até as divisões administrativas romanas, pois assentárom os seus domínios nos três velhos conventos da Gallaecia (nomeadamente no lucense e no bracarense), estendendo depois os seus domínios ao escalabitano, com capital em Santarém. Grande parte do território galego-português ficou incluído no entom chamado Galliciense Regnum, Reino da Galiza.

O domínio suevo durou 175 anos, até a conquista visigoda, mas o território em que este povo fundou o seu reino, com os seus mesmos limites, ora mantivo grande autonomia ora reapareceu várias vezes como reino até o século XI. É esta a história que explica que o latim falado nos conventos da Gallaecia e da Lusitânia se fosse afastando do do resto da Península até dar origem ao galego-português, umha língua que antes de começar a escrever-se, em finais do século XII, tivo oito séculos de história oral, a mesma a norte e a sul do Minho. E também é esta a história que explica que nos seguintes séculos surgisse conjuntamente na Galiza e em Portugal umha das líricas mais importantes do Medievo europeu.

O que acabei de contar nom é um relato desconhecido pola História da língua, mas continua invisível nas escolas, onde se preferem valorizar outros acontecimentos, em geral posteriores à Alta Idade Média. A historiografia espanhola explica a génese das atuais línguas ibéricas na Reconquista. A portuguesa prefere esquecer qualquer acontecimento anterior à formaçom do seu próprio Reino, no século XII. A Filologia galega, por seu turno, costuma pôr o acento na produçom cultural posterior ao século XVIII. O resultado é que o Reino da Galiza quase nom se vê. Ninguém o fai por mal. Nom creio que haja intençom de ocultar nada, apenas de salientar o relato que mais se adequa à visom moderna que cada pessoa ou coletivo tem das cousas. Porém, é óbvio que estas visões, em Compostela, em Lisboa ou em Madrid, contribuem a fazer esquecer que a nossa língua nasceu no Reino da Galiza e tem umha história de quase oito séculos prévia à separaçom do Condado Portugalense, logo convertido em Reino de Portugal.

Apesar disto, os condicionamentos internos que nos turvam a vista às vezes desaparecem se a história é observada a partir do exterior, a certa distância. Foi o que aconteceu recentemente com o filme Arrival (A Chegada), a mais sucedida produçom hollywoodiana de ficçom científica do ano 2016, que pujo na boca da sua protagonista umha frase memorável para explicar o nascimento da nossa língua:

The story of Portuguese begins in the Kingdom of Galicia in the Middle Ages, when a language was seen as an expression of art.” [“A história do português começa no reino da Galiza, na Idade Média, quando a língua era uma forma de arte.”]

O filme já foi visto por milhões de pessoas em todo o mundo e a AGAL decidiu festejá-lo no dia em que celebramos que os tempos som “chegados”, ainda que seja doutra Galáxia. Eduardo Maragoto - Galiza in “Festagal! - Jornal da Associaçom Galega da Lingua”

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