Nascido no município acriano
de Tarauacá, na Terra Indígena Praia do Carapanã, Joaquim Paulo de Lima
Kaxinawá se tornou o primeiro índio no Brasil a receber o título de doutor em
linguística pela Universidade de Brasília (UnB). Mais conhecido como Joaquim Maná,
ele defendeu hoje, 19 de dezembro de 2014, a tese “Para uma gramática da Língua
Hãtxa Kuin”.
Alfabetizado na língua
portuguesa aos 20 anos em, um programa alternativo coordenado pela Comissão
Pró-Índio do Acre, ele fez o magistério indígena no estado e a graduação em um
curso intercultural indígena na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. O mestrado
e o doutorado foram feitos na UnB.
Para ele, um dos maiores
desafios durante o doutorado foi a indisponibilidade de pesquisas sobre a
língua de seu povo, sobretudo em português. “Muitas pesquisas foram escritas em
inglês, alemão, francês e espanhol e não foram apresentadas ao povo, ficaram
guardadas”, ressalta.
Agora “doutor”, Joaquim
Kaxinawá acredita que a tese não deve provocar muitas mudanças, mas espera que
sirva de exemplo para a formulação de um programa de ensino da língua nativa
aos diferentes povos do país.
“Das 12 terras que nós
temos, seis já estão com problemas. Os mais velhos falam na nossa língua e os
jovens já não falam mais. Falam em português. Agora é preciso se aliar às
secretarias municipais, estaduais, ONGs [organizações não governamentais] que
trabalham com os povos indígenas, para criar um programa e manter um curso de
ensino de língua oral, língua escrita e produção de material didático”, defende
Kaxinawá.
Recentemente, a Agência
Brasil publicou a reportagem especial Ixé Anhe'eng
destacando que, nos próximos 15 anos, o Brasil corre o risco de perder até 60
diferentes línguas indígenas – o que representa 30% dos idiomas falados pelas
etnias do país.
A coordenadora do
Laboratório de Literatura e Línguas Indígenas da UnB, Ana Suelly Cabral,
destaca a importância do estudo sobre os povos originais. “Se eu sou
professora, ou fui, do Joaquim, ele foi meu professor também. Trabalhar com
eles é uma grande aprendizagem. Ao mesmo tempo em que eu passo esse
conhecimento, eu estou aprendendo com eles, a língua deles, e também, mais
importante, eu aprendo uma riqueza cultural incrível que eles me passam.”
A professora adianta que
mais dois pesquisadores indígenas devem conquistar o título de doutor pela UnB
em fevereiro e em maio do ano que vem. Ela espera que os estudantes se espelhem
em Joaquim, que pretende voltar à Terra Indígena Praia do Carapãnã, para
reforçar o ensino da língua Hãtxa Kuin, do povo Huni Kuín, entre crianças e
adultos. Maíra Heinen – Brasil in “Agência
Brasil”
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