Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 17 de junho de 2023

Cabo Verde - A cantora maiense Rhaya Monteiro apresenta o seu primeiro single “Melodia Nha Morna”

Rhaya Monteiro é um exemplo de perseverança na música. Desde o dia em que começou a cantar, ainda adolescente, sonhava lançar um trabalho, sonho que só viria a realizar 11 anos depois com o single “Melodia Nha Morna”. Em entrevista ao Balai, a cantora de 29 anos revelou que deixou a música por anos engavetada por falta de apoios, mas que agora com este trabalho espera que outras portas se abram.


De Cascabulho para Praia: uma viagem na música

A história de Raquel Monteiro na música começa na ilha do Maio, onde nasceu. “Vim de uma localidade pequena, onde as pessoas vivem de agricultura e pesca, temos falta de muitas coisas, os jovens têm poucas oportunidades para aprender”, lamentou e explicou que era difícil conseguir desenvolver uma carreira musical na localidade por causa destes fatores.

Lembra que desde criança gostava de música, sendo que cresceu rodeada de familiares que cantavam músicas tradicionais nas festas locais, o que desenvolveu o seu amor por géneros tradicionais, como a morna. Confessa que é fã da Diva dos pés descalços Cesária Évora.

Durante a adolescência participou de uma atividade para jovens na Igreja de Ribeira Dom João. Foi nesse dia que teve um dos momentos mais marcantes da sua vida. Estavam na hora do descanso e os responsáveis abriram um momento para os jovens mostrarem o seu talento. Por ser tímida, Rhaya não quis participar, mas lembra que talvez um movimento para arrumar o cabelo ou de mexer na cabeça tenha sido mal interpretado pelo apresentador que a chamou para o palco.

Para não passar mais vergonha subiu ao palco, mesmo perante a insistência dos amigos para que não fosse já que conheciam a sua timidez. Com a atenção dos presentes, a adolescente cantou “Mnine da rua ma mi” do grupo santoantonense Cordas do Sol, naquele momento desafiou-se a interpretar uma música numa variante de crioulo diferente da sua e depois da atuação só recebeu comentários positivos dos presentes.

Anos mais tarde, já com 17 anos garantiu o primeiro lugar num concurso de voz regional, depois viajou para São Vicente para marcar presença na gala. Antes de ir para a gala ponderou se devia continuar no mundo da música, mas durante os ensaios foi encontrando pessoas que a incentivaram a prosseguir. O resultado só provou que precisava continuar nesse caminho: conseguiu o primeiro lugar na gala e como prémio viajou para França para representar Cabo Verde no Festival Revelação “Vozes da Diáspora”.

Nesse ano, deixou a ilha natal para ir morar em São Vicente e dar continuidade aos estudos em Ensino de Inglês. Porém enfrentou dificuldades económicas e, em menos de um ano, abandonou o curso e viajou para Santiago onde vive até hoje.

Após todas estas experiências, Rhaya percebeu que precisava continuar na música e desde então tem cantado em eventos culturais e solidários, bares, restaurantes e galas. O seu nome artístico “Rhaya” foi escolhido como forma de representar o seu percurso. O nome significa “raio de luz” e é um lembrete de que deve continuar a escrever o seu próprio caminho e a inspirar outras pessoas com a arte.

Uma melodia dedicada à mãe

No primeiro tema Rhaya Monteiro expressou todo o seu amor pela morna que, segundo conta, sempre quis lançar um single neste género musical. Por isso, logo que surgiu a oportunidade de gravar disse à equipa que este seria o género da sua primeira canção. “A morna faz-me sentir bem, queria deixar esta primeira marca e sinto-me realizada”, sublinhou.

O nome da canção “Melodia Nha Morna” é uma homenagem à mãe: “Ela ensinou-me que apesar das adversidades tens de buscar forças para continuar a viver a vida. Mesmo nas dificuldades, ela sempre me mostrou um sorriso”.

Melodia é a palavra que a cantora usa para descrever as cores e a inspiração que a música trouxe para a sua vida. Nha Morna se juntou ao título para mostrar que como este género é dela e também da mãe. O single gravado na Cidade Velha é uma forma de enaltecer as duas alegrias de sua vida e homenagear as mães cabo-verdianas.

A canção começa com um pedido da artista à mãe para que lhe conte tudo o que aconteceu na sua ausência, ao mesmo tempo que declara o seu amor. “Amor maior ki tem e bo, mae bu amor e inkondicional, bo e nha divindade. Melodia di nha morna, rainha di nha mundu, nha konsolason na dia di angustia”, canta Rhaya que também usa a voz para pedir à mãe perdão por não ser uma filha melhor.

Sentimentos que teve ao visitar a sua mãe no ano passado na ilha do Maio em que desejou estar mais perto da família para dar apoio no tratamento da progenitora. Explica que a música veio de forma natural, escreveu a letra e gravou no telemóvel.

Inicialmente Rhaya tinha planos de gravar parte da canção “Melodia Nha Morna” na ilha do Maio, o que se mostrou impossível devido à falta de patrocínios.“ (…) quando realças algo da tua ilha no videoclipe é uma forma de promover visualmente”, diz Raquel que almeja contribuir para a música e elevar a ilha do Maio.

Sonhos adiados por falta de meios

“(…) enquanto não és conhecida é difícil ter um patrocínio”, lamentou a cantora, acrescentando que durante anos enviou emails com áudios e a carta de motivação aos quais nunca obteve resposta, nem positiva nem negativa.

O sonho parecia distante até que Rhaya foi uma das contempladas no âmbito do edital resgate da música tradicional cabo-verdiana, do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas. Com o apoio e motivação de artistas e amigos, a cantora lançou o seu primeiro trabalho. Este apoio, Rhaya diz que tem vindo a receber até hoje.

“Pessoas do Maio, da Praia, de São Vicente e de outras ilhas tem-me enviado mensagens muito positivas, só tenho a agradecer”.

Depois de mais de 11 anos a dar voz à música de outros cantores, Rhaya pôde finalmente presentear os cabo-verdianos com as suas próprias composições. Ressalva que assim como é muito pregado para os artistas não desistirem do sonho é preciso mostrar-lhes que a luta vale a pena e sublinha que existem várias formas de incentivar os artistas, mesmo que não sejam financeiras, mas em forma de aconselhamento e mentoria, por exemplo.

Para este ano Rhaya adianta que está envolvida em vários projetos. O primeiro vai ser a apresentação do single no Palácio da Cultura.

Perspetiva para o próximo ano lançar novos singles se houver mais apoios. “Mais mornas e coladeiras, se for o tradicional contem comigo sempre”, declara entre risos.

A artista não descarta a possibilidade de incluir géneros como RnB, Zouk e outros ou mesmo outros temas nos seus próximos trabalhos porque reconhece que precisa acompanhar as novidades porque a vida é feita de desafios e o mundo da música não foge à regra.

“Continuar a cantar e ajudar a expandir a cultura”, adianta como as suas ambições musicais e acrescenta que quando fala em divulgar a cultura é também para o continente africano. “O que nos fortalece e afirma a nossa identidade é a nossa cultura africana, porque isso é nosso”, conclui. Celine Salvador – Cabo Verde in “Balai Cabo Verde”


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