SÃO PAULO – Relatório
preparado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal),
organismo criado em 1948 pelo Conselho Econômico e Social da Organização das
Nações Unidas (ONU) para monitorar políticas de desenvolvimento na região, mostra
que a situação da infraestrutura dos portos no Brasil não é diferente daquela
que se vê no resto do continente. Ou seja, há uma indefinição quanto à
infraestrutura que se quer para as próximas décadas, diante de uma realidade a
que não se pode fugir: a região exporta hoje menos produtos de valor agregado
que há quinze anos.
Diante disso, as autoridades
latino-americanas, de um modo geral, não sabem se continuam a avançar na
criação de uma infraestrutura para escoar commodities ou para exportar produtos
de valor agregado. Até porque a tendência de cargas a granel que passam para
contêineres parece ter chegado a um momento-limite e não deverá ir muito mais
além.
Na verdade, apostar na
expansão da infraestrutura para a exportação de matérias-primas significa
admitir a submissão aos padrões impostos pelos países mais desenvolvidos, ou
seja, aceitar como inevitável uma nova forma de colonialismo. Só que avançar na
direção contrária pode significar também desperdício de investimentos na medida
em que o continente passa hoje de uma fase de desindustrialização para uma
total quebra das empresas. Basta ver que, segundo dados da Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a indústria
brasileira de bens de capital vem apresentando resultados cada vez mais baixos
de ocupação de sua capacidade instalada, chegando a 65,7% em maio de 2015.
Seja como for, segundo o
relatório da Cepal, o que se tem hoje na América Latina é resultado de pouco
investimento em infraestrutura portuária. Na década de 1980, esse investimento
alcançou 4% do Produto Interno Bruto (PIB), mas na década de 1990 caiu para 2%,
tendo ocorrido uma melhora para 3,7% ao final do século XX, o que levou muitos
especialistas a imaginar que a substituição do investimento público pelo
privado seria a solução. Só que essa substituição não ocorreu na medida em que
se esperava e, atualmente, a demanda de transporte é maior que a oferta. Ou
seja, lamentavelmente, os latino-americanos vivem hoje da infraestrutura
deixada por seus avós. Com isso, é grande a possibilidade de que muitos navios
de 10 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) comecem a chegar
à América do Sul com muita capacidade ociosa.
Os números da Cepal mostram
ainda que houve, na América Latina, de 2000 a 2013, um crescimento de 68% na
construção de cais nos portos, passando-se de 13.600 metros para 22 mil metros.
E que, em termos de volumes, no mesmo período, passou-se a movimentar de 4,39
milhões de TEUs para 24 milhões, com um aumento de 460% na produtividade. Se se
tomar como parâmetro o ano de 1990, essa produtividade cresceu 770%. Hoje,
porém, diante do atual quadro desfavorável e da falta de perspectivas,
duvida-se que seja possível crescer nesse ritmo por falta de infraestrutura
portuária suficiente. Milton Lourenço –
Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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