Sines à deriva
A dimensão portuária do complexo de Sines
tornou-se num raro caso de consenso em torno de um notável sucesso da economia
portuguesa.
Distante da visão centrada na petroquímica
que o marcelismo decadente sonhara, e que a crise de 1973 liquidara, Sines é um
caso único de afirmação de um projeto portuário de dimensão intercontinental. A
sua consolidação rompeu com a miséria do centralismo provinciano e com as
desconfianças dos medíocres habituais que no final do século passado tudo
fizeram para impedir a concretização do que apelidavam de elefante branco.
A teimosia determinada de João Cravinho,
Consiglieri Pedroso e Ana Paula Vitorino deu músculo e visão política a que o
pequeno porto de pesca e o terminal industrial evoluíssem para um grande porto
de combustíveis e de contentores que vale metade do movimento portuário
nacional, é um exemplo de simplex burocrático e dá lucro para o Estado.
Aqueles que, como o atual Governo, se
deliciam com a comodidade do apeadeiro aéreo da Portela e têm orgulho em que
Portugal seja uma Albânia ferroviária não conseguiram travar o sucesso de
Sines. Adiaram a ligação ferroviária eficiente à Europa, cancelaram a ligação
rápida ao interior, mas não impediram que Sines continuasse a crescer nos dois
últimos anos, quando tudo corre mal na economia portuguesa.
Na última década, o rosto do sucesso de Sines
tem sido uma exemplar gestora pública chamada Lídia Sequeira, que Cavaco Silva
destacou na recente visita a Singapura como o símbolo de sucesso da vocação
portuguesa para centrar o desenvolvimento na relação com o Mar. Quando Passos
Coelho quis mostrar a economia que resiste à crise teve de ir a Sines.
Na imprensa de fim de semana dizia-se que o
Governo admitia afastar Lídia Sequeira pelas suas reservas ao crime económico
anunciado para a Trafaria. Ela disse o que todos acham, que é um absurdo um
porto de águas profundas na Margem Sul, que liquida a competitividade de Lisboa
e prejudica Sines e Setúbal.
Ontem iria falar do tema na Assembleia da
República… já não foi porque foi escovada para não dizer verdades
inconvenientes. A economia está já de rastos, temos agora Sines à deriva… Eduardo Cabrita – Portugal in “Correio da Manhã”
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