Somos um país historicamente ligado ao mar e
a nossa capacidade de independência devemo-la ao mar, senão não teríamos saído
da península ibérica e teríamos encontrado uma solução dentro do quadro
ibérico.
Nós conseguimos escapar a esse quadro porque
tivemos a visão no passado, que o mar nos dava uma autonomia e uma capacidade
de manobra que não nos dá a terra e essa visão perdeu-se um bocado quando
entrámos na Europa, ficámos deslumbrados com a Europa e perdemos o sentido
atlântico que agora estamos a tentar reencontrar.
O sentido atlântico é aquele que nos vai dar
outra vez a liberdade de manobra que nós perdemos e portanto neste momento em
que há quase uma descontinuidade no paradigma anterior, ou seja nós fomos
desenvolvendo-nos de acordo com o modelo que neste momento tem grandes
problemas e temos que reinventar o modelo, de certeza que essa reinvenção terá
de passar outra vez pelo mar, porque se não passar pelo mar, seremos absorvidos
e perdemos a nossa identidade.
Portugal é o 11º país em território marítimo
e somos o centésimo…qualquer coisa em território terrestre, portanto há uma
desproporção extraordinária entre o mar que está sob jurisdição portuguesa e o
território seco. O que é que isto significa? Que o mar sob jurisdição é
equivalente a praticamente 80% de todo o continente europeu, só para terem uma
noção da dimensão, e esse mar tem riquezas potenciais, são potenciais porque
ainda não estão a ser exploradas, de elevado valor, de um valor que até eu
diria, para a nossa dimensão, de um valor incalculável.
O grande desafio que os portugueses têm é de
conseguir transformar esse potencial numa riqueza palpável, numa coisa que faça
com que os portugueses possam melhorar o seu nível de vida e possam mudar, até
um bocado de trajectória que tem sido de declínio nos últimos anos. E isso tem
que se fazer como? Boa governação, com empresários que apostem neste potencial
que tem diversas facetas, um potencial energético, porque há hidrocarbonetos,
há hidretos metálicos, há um conjunto de potenciais produtos que podem ser
explorados com valor energético incluindo energia offshore, energia eólica
offshore e não só ao explorarmos esses nichos de mercado, ficamos mais
seguros em termos energéticos, mais independentes em termos energéticos, como
desenvolvemos uma tecnologia que também cria uma indústria exportadora para os
outros países.
Nós somos um país pequeno, numa população de
6 biliões de pessoas que está globalizada, nós temos que começar a ver da
seguinte forma: 6 biliões de pessoas querem vender a 10 milhões e 10 milhões
querem vender a 6 biliões, quem é que está na melhor posição? Eu acho que somos
nós que somos 10 milhões a quererem vender a 6 biliões. Agora temos que saber
vender e ter produtos para vender, e esta é uma nova filosofia, uma nova
aproximação e para isso tem que haver inovação e tem que haver empresários que
apostem no mar.
Para além dos produtos energéticos, há
produtos minerais, há produtos biológicos para a indústria farmacêutica de
elevado valor no fundo do mar, há os transportes, estamos numa posição
geográfica essencial para os transportes marítimos, há o próprio posicionamento
geográfico que Portugal está inserido que nos permite jogar no tabuleiro
internacional, de uma outra forma se tivéssemos noutro sítio não poderíamos jogar,
portanto a nossa importância não é só económica, nós temos outras importâncias
para além da importância económica e temos que ver tudo isto de uma forma
conjunta, e só vendo desta forma conjunta, é que Portugal encontrará um novo
destino e poderá sair desta curva de declínio em que parece que estamos
condenados, mas nós não estamos condenados, temos é que lutar para sair desta
curva.
Enquanto no ambiente terrestre nós pertencemos
a um continente, a Europa e estamos na periferia da Europa, afastados dos
principais centros de decisão política, afastados dos principais centros
económicos e temos que lutar contra essa
periferia, portanto isso tem um custo tremendo para a nossa economia, nós
pensarmos no espaço marítimo e no transporte marítimo, nós estamos no centro de
um novo espaço que é oceanocentrico, ou seja em que o oceano passa a ser o
espaço primordial de transacções económicas e nisso Portugal desenvolveu fruto
da sua cultura e da sua história, uma comunidade intra-comunidades, nós somos a
única comunidade, ou uma das poucas comunidades, que tem um pé na Europa, tem
um pé na América do Sul, tem um pé em África e tem um pé no Extremo Oriente.
Nós temos de saber utilizar essa capacidade de sermos uma comunidade entre
comunidades e ligar esses interesses, que muitas vezes não estão ligados, e percebermos
todos nós em conjunto, que podemos alavancar uns aos outros, isso conseguimos
porque temos essa ligação através do mar, aí somos centrais, somos centrais
porque estamos numa posição geográfica em que passam as maiores rotas marítimas
do tráfego internacional aqui, nós podemos vê-las passar e não aproveitar, ou
podemos criar serviços e condições para aproveitar essas rotas marítimas e isso
é que precisa outra vez de imaginação, de bons empresários e de boas políticas.
Gouveia e Melo – Portugal in “Imagens de Marcas”
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Henrique
Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, a 21
Novembro 1960. Ingressou na Escola Naval em 7
Setembro 1979 como Cadete do curso "Carvalho Araújo" e em 19
Setembro de 1983 foi promovido a Aspirante.
O Comandante Gouveia e Melo integrou a
Esquadrilha de Submarinos em Setembro de 1985, tendo navegado nos Submarinos
Albacora, Barracuda e Delfim , exercendo diversas funções operacionais como
Oficial de guarnição até 1992. Especializou-se
em Comunicações e Guerra Electrónica de Setembro de 1989 a Agosto de
1990.
Foi promovido às funções de Oficial Imediato
em 1992, tendo exercido essas funções nos Submarinos Albacora e Barracuda
até 1994.Em 1993 frequentou o Curso
"International Diesel Electric Submarine Tracking Course" em Norfolk,
Estados Unidos.
Após ter sido promovido a capitão-tenente em
Outubro de 1993, frequentou o Curso Geral Naval de Guerra, de Março de 1994 a
29 de Julho de 1994.
Fez três comissões de Comando nos Submarinos
Delfim e Barracuda no período de Outubro de 1994 a Abril de 1998.
De 06 de Janeiro de1998 a 09 Dezembro de 2002
desempenhou as funções de Chefe do Serviço de Treino e Avaliação da Esquadrilha
de Submarinos e Chefe do Estado-Maior do SUBOPAUTH nacional.
Em 2000 fez uma pós-graduação em “Information
Warfare” na Universidade Independente.
De Dezembro de 2002 a Dezembro de 2005
exerceu as funções de Chefe do Serviço de Informação e Relações Públicas do
Gabinete do Almirante CEMA.
De Setembro de 2005 a Fevereiro de 2006
frequentou o Curso Complementar Naval de Guerra no Instituto de Estudos
Superiores Militares.
De Março a Setembro de 2006 exerceu as
funções de 2º comandante da Flotilha de navios.
De Setembro de 2006 a Setembro de 2008
exerceu as funções de Comandante do NRP Vasco da Gama.
De 19
de Setembro de 2008 a 04 de Setembro de 2011 assumiu as funções de comandante
da Esquadrilha de Submarinos.
De Setembro de 2011 a Junho de 2012
frequentou com sucesso o curso de promoção a oficial general no IESM.
Desde o dia 22 de Novembro assumiu a Direcção
de Faróis.
O capitão-de-mar-e-guerra Gouveia e Melo foi
condecorado com as seguintes Medalhas:
Ordem militar de Avis – grau comendador, cinco Medalhas de Serviço
Distintos, uma de ouro e quatro de prata, Medalha de Mérito Militar de 2ª e 3ª
Classe, Medalha da Cruz Naval de 3ª Classe e Medalha de Comportamento Exemplar
– ouro, Medalha NATO comemorativa da operação Sharp Guard. Para ver e ouvir as
declarações do Comandante Gouveia e Melo aceda aqui
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