Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Macau - Jogo, património, comida e português marcam percepções dos turistas

O jogo, o património, a gastronomia e a Língua Portuguesa estão entre as descrições mais utilizadas pelos visitantes para se referirem a Macau, concluiu um estudo que analisou a percepção dos turistas sobre a imagem da cidade. Segundo os investigadores, a maioria dos turistas usou adjectivos “autêntico”, “romântico”, “caótico”, “lotado”, “delicioso” e “luxuoso” para descrever a cidade, não deixando de apontar alguns problemas, desde o preço dos hotéis à sobrelotação das ruas


A sobrecarga da zona histórica, o descompasso entre o número de turistas e a capacidade espacial estão entre os problemas enfrentados por Macau, segundo um estudo que analisou a percepção turística sobre a imagem da cidade. De acordo com os investigadores Yin Jianqiang e Feng Jingzhao, da Faculdade de Humanidades e Artes da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, Wu Ruochan, da Faculdade de Artes da Universidade de Arte e Design de Shandong, e Jia Mengyan, da Faculdade Jiyang da Universidade A&F de Zhejiang, “a percepção dos turistas sobre a imagem da cidade de Macau permanece principalmente no nível intuitivo e superficial, centrando-se em aspectos como ‘jogo’, ‘património’, ‘comida’ e ‘língua portuguesa’”.

As conclusões do artigo publicado na revista científica “Buildings”, baseiam-se no conteúdo gerado pelos utilizadores da rede social Weibo, uma das maiores do Continente chinês, como a análise de palavras de alta frequência. A percepção da imagem específica de Macau por parte dos turistas “não é suficientemente profunda, muitas vezes limitada a paisagens individuais” e “com as impressões mais proeminentes geralmente centradas em marcos como ‘Ruínas de São Paulo’, ‘Grand Lisboa’, ‘Galaxy’ e ‘The Parisian’, com uma percepção relativamente baixa de conotações culturais escondidas por trás das paisagens da cidade”.

Com base na ciência de dados e juntamente com teorias da arquitectura urbana e da antropologia social, a investigação visou “descobrir o conteúdo percebido e os mecanismos de influência subjacentes da imagem da cidade de Macau na perspectiva dos turistas, analisando o texto do conteúdo gerado pelos utilizadores”. “A paisagem arquitectónica, a cultura histórica, a economia comercial e a governação do espaço social de Macau têm impacto nas percepções dos turistas”, realça o quarteto de investigadores, acrescentando que factores como os transportes urbanos, instalações de apoio, gestão do turismo, serviços públicos, preços urbanos, características da cidade, experiências de viagem e segurança pessoal são particularmente influentes. “Estas descobertas fornecem informações valiosas para o desenvolvimento do turismo em Macau e para a valorização da imagem da cidade”, sustentam.

Os académicos explicam que a imagem da cidade reflecte a cultura e comunicação urbana e influencia o comportamento de viagem dos turistas. No entanto, “com base em investigações de campo, constatou-se que o espaço da cidade de Macau enfrenta actualmente problemas como um desequilíbrio na eficiência prática do uso, uma sobrecarga de áreas urbanas históricas e um descompasso entre o número de turistas e a capacidade espacial”.

No estudo pode ler-se que a percepção dos turistas sobre a imagem da cidade de Macau pode ser resumida em quatro dimensões principais, sendo elas a imagem arquitectónica e paisagística, a imagem cultural e histórica, a imagem económica e comercial e a governação espacial e imagem do serviço público. Para além disso, os resultados da pesquisa apontam como aspectos negativos a “percepção da infra-estrutura, do serviço turístico, da experiência urbana e da segurança, sendo a percepção da escala espacial o factor mais influente”.

Segundo os investigadores, a maioria dos turistas escolhe visitar Macau para passear e passar férias, optando pelos adjectivos “autêntico”, “romântico”, “caótico”, “lotado”, “delicioso” e “luxuoso” para descrever a cidade.

Se, por um lado, as avaliações positivas dos turistas ajudam a melhorar a reputação de Macau e a atrair mais visitantes, por outro, as avaliações negativas oferecem oportunidades de melhoria para aumentar a satisfação e a lealdade dos turistas. “Isso ajudará a indústria do turismo de Macau na formulação de planeamento estratégico e estratégias de marketing direccionadas para melhorar ainda mais a imagem de Macau como um destino turístico”, frisam os autores do estudo.

Através da análise de palavras de alta frequência, análise semântica de rede e análise de categorização de factores de percepção negativa, “o estudo investigou os significados ocultos por trás das palavras e das suas relações”, nomeadamente ‘Ruínas de São Paulo’, ‘Grand Lisboa’ e ‘casinos’. Dessa forma, com base nas avaliações menos boas dos visitantes, o estudo “resume as razões das emoções negativas entre os turistas”.

Com referência a estudos anteriores, os autores defendem, simultaneamente, que “os resultados da pesquisa também indicam que a organização de eventos culturais é uma forma eficaz de melhorar a imagem da cidade de Macau”.

Da sobrelotação aos preços altos

No que toca às percepções negativas da imagem da Macau, a maior diz respeito às experiências da cidade, como a dificuldade em fazer reservas em restaurantes, a sua sobrelotação, o tempo de espera e o horário de abertura. Outros exemplos apontados no estudo têm que ver com a sobrelotação das ruas na zona histórica, o preço dos hotéis e a homogeneidade dos centros comerciais.

O segundo factor com maior peso nas percepções negativas da imagem da cidade reside nas infra-estruturas, com as ruas estreitas e espaços sobrelotados como os problemas mais citados. “Adicionalmente, verifica-se a inexistência de lugares de descanso e sanitários públicos, o que não responde às necessidades quotidianas dos turistas, indiciando instalações de apoio inadequadas”.

Também o pagamento na moeda local e a necessidade de reserva exigido por parte de alguns serviços de táxi, bem como a segurança da cidade, aos níveis pessoal e patrimonial, integram os pacotes de percepção negativa por parte dos turistas.

Os investigadores fazem algumas recomendações para melhorar a imagem da cidade, como a optimização da alocação de recursos turísticos nos espaços urbanos, através, por exemplo, da atracção de mais grupos turísticos para as áreas periféricas, para “ajustar o fluxo e a utilização dos espaços públicos”. Outras medidas propostas são a melhoria da construção de infra-estruturas públicas urbanas, como a criação de um sistema de transporte de vários níveis em áreas densamente povoadas, e a renovação do ambiente espacial da cidade velha, através da organização de actividades culturais, exposições comunitárias, abertura de lojas de artesanato comunitário, entre outros, bem como a manutenção e reparação de edifícios antigos, de modo a melhorar a aparência visual dessa parte da cidade.

Paralelamente, o estudo propõe o fortalecimento da promoção do aprofundamento histórico e cultural, bem como a melhoria da conveniência dos autocarros e táxis, e o fortalecimento da gestão urbana e da segurança.

A imagem da cidade representa “as impressões, ideias, conceitos e percepções que os turistas têm sobre uma cidade”, bem como “significa os pensamentos associados e fragmentos de informação sobre a cidade, reflectindo a sua cultura e comunicação”, servindo ainda “como uma referência crucial para os turistas antes, durante e depois das suas experiências de viagem”.

Os investigadores recomendam a comparação da percepção da imagem urbana de Macau entre turistas chineses e de outros países, dada a internacionalização turística da cidade. Através da referência ao esboço do Plano Director da RAEM (2020-2040) que “propõe transformar Macau num centro mundial de turismo e lazer, atraindo cada vez mais turistas no futuro” os académicos defendem que “explorar a imagem da cidade de Macau do ponto de vista dos turistas é um tópico altamente valioso”. Susana Martinho – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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