Cientistas
galegos contra a praga que mata de fome um molusco gigante. Pesquisadores do
Intecmar analisam um parasita que deixou a Nacra, um bivalve endémico do
Mediterrâneo, à beira da extinção
A Nacra (PINN nobilis) é um
molusco bivalve enorme, que pode chegar a medir 120 centímetros de comprimento,
e que só é encontrado em águas do mar Mediterrâneo. O seu Biso é um tecido
também chamado seda do mar que leva a ser utilizado desde a época clássica. A
poluição e a sobrepesca reduziram a sua presença nos fundos marinhos. Mas
agora, a Nacra enfrenta um grave problema que poderá levar mesmo à sua extinção.
Pesquisadores marinhos de várias regiões mediterrânicas alertaram para uma
elevadíssima mortalidade da espécie, de acordo com o jornal “El País”. E um
grupo de cientistas galegos conseguiu identificar a origem do problema.
No ano passado, o chefe de
serviço de Conservação de recursos pesqueiros da Generalitat Valenciana,
preocupado com a situação, decidiu contactar o Intecmar de Vilagarcía de
Arousa, que vela pela qualidade do meio marinho da Galiza. "Confiava no
nosso centro para apurar a causa das mortandades", explica à GCiencia
Susana Darriba, chefe da Unidade de Patologia do instituto. Os resultados da
pesquisa foram publicados na revista “Journal
of Invertebrate Pathology”.
Este parasita, de acordo com
Darriba, "invade a glândula digestiva, formando esporos nos túbulos
digestivos, que é onde ocorre a digestão intracelular". Portanto, a Nacra morre
de fome por não poder realizar a digestão.
O parasita invade os túbulos
digestivos e impede que as Nacra façam a digestão. No início de novembro de
2016 chegaram a Arousa as amostras das Nacra. "Fizemos um ensaio
histopatolóxico e verificamos, com técnicas moleculares e de microscopia eletrónica,
a presença de parasitas do tipo haplosporida", lembra a pesquisadora.
"O mais provável é que estamos diante de uma nova espécie, dentro deste
tipo haplosporida, que pode estar próxima do Haplosporidiun nelsoni, que anos
50 devastou uma espécie de ostra na costa atlântica dos Estados Unidos com
taxas de mortalidade superiores a 90 por cento". O parasita das Nacra do
Mediterrâneo apresentava traços comuns com o norte-americano, uma vez que faz
as suas esporas nos túbulos digestivos, como tinha acontecido naquele caso. Mas
as análises descartaram que tinha sido aquela espécie letal na década de 50.
E como chegou este parasita a
devastar as Nacra? Não se sabe com certeza. Porém, Susana Darriba apresenta
várias hipóteses: "Por um lado, poderia especular-se com o que tinha
nessas águas antes, em fases não letais , e que alguma mudança ambiental facilitou
a formação de esporos, que é a fase mais letal de tais parasitas. Por outro
lado, poderia especular-se com a entrada no Mediterrâneo provenientes de outras
latitudes por movimentos de partidas de moluscos ou de outros organismos
marinhos que são portadores do parasita, ou em água de lastro". Também não
se pode descartar, segundo a cientista do Intecmar, "que prova uma zona em
que não causa mortalidades por não dar as condições ambientais adequadas para a
formação de esporos, e ao atingir esta nova localização, se dessem as condições
necessárias".
A praga avança sem remédio no
Mediterrâneo, e os cientistas procuram uma solução. No entanto, esta é
"muito difícil, senão impossível", devido à dificuldade de tratar
doenças de moluscos marinhos em alto mar, lamenta Darriba. Manuel Rey – Galiza in “GCiência”
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