Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Artistas de Macau expõem na galeria da UCCLA

Encontra-se patente ao público, na galeria da UCCLA, em Lisboa, até 20 de dezembro, uma vibrante exposição coletiva de 25 artistas macaenses, intitulada “Aqui e Agora”, numa linha de contemporaneidade marcada, quase paradoxalmente, pelos longos e longínquos passos da História, de filosofias e de ritos orientais que se entrecruzam com as tradições do Ocidente.



A mostra percorre diversas formas de expressão artística, como a escultura, a pintura e a fotografia, mas sem perder um fio condutor que não só nos transporta, em polícromas moções, para novéis destinos, mas que também nos oferece dons e verdades de Macau, de par com dons e verdades portuguesas, nesses tempos de ontem, como nos de hoje.  

A curadoria pertence a James Chu e a José Drummond.  

Organizada pela UCCLA e pela Art For All Society (AFA), no âmbito do 25.º aniversário do retorno da Região Administrativa Especial de Macau à China, a exposição conta com o patrocínio do Governo da Região Administrativa Especial de Macau e Fundo de Desenvolvimento da Cultura, e foi apoiada pelo Instituto Cultural de Macau, com parceria institucional da Comissão Temática de Promoção e Difusão da Língua Portuguesa dos Observadores Consultivos da CPLP, da Câmara Municipal de Lisboa e do Observatório da China.

Fotografias da exposição “Aqui e Agora”


Angola - Cidade de Benguela vai ter Biblioteca Pública Provincial

A construção de uma biblioteca provincial em Benguela, com padrões arquitectónicos modernos, é uma das principais apostas das autoridades governamentais locais, para os próximos anos, segundo o director provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos



Em declarações ao Jornal de Angola, Pascoal Luís explicou que o Governo local está a trabalhar para fazer surgir uma biblioteca provincial, brevemente. Realçou que o surgimento da instituição vai representar um ganho significativo para o acesso ao conhecimento.

Pascoal Luís realçou que uma biblioteca vai ajudar na preservação da história local e fomentar hábitos de leitura e do livro. Ao falar num encontro com os agentes culturais, frisou que a iniciativa vai fomentar a leitura, proporcionar espaços para a pesquisa, além de promover atividades culturais que integrem a comunidade.

Pascoal Luís garantiu que o projecto terá um acervo que inclui livros físicos e digitais e documentos históricos, como forma de valorizar o património cultural da província. “A criação da biblioteca vai beneficiar estudantes, pesquisadores e o público em geral.”

Projectos do género, acrescentou, permitem dinamizar a vida cultural da região e preservar a memória colectiva das comunidades de Benguela. “Precisamos de ter uma biblioteca provincial, capaz de dar respostas às principais inquietações da juventude”.

Outras prioridades

Pascoal Luís disse que além da biblioteca provincial, a direcção traçou, também, algumas prioridades que passam, sobretudo, pela criação de uma agenda cultural local mais dinâmica. “O que nós gostaríamos de pedir aos fazedores de cultura é a elaboração dos programas e calendários das atividades”.

Com a agenda cultural, destaque que, também, é possível coordenar as atividades, fundamentalmente, no setor da Cultura, Turismo e Desportos. “Com a agenda cultural, vamos disponibilizar as unidades hoteleiras para quem viaja em Benguela, por exemplo, poder ter acesso aos locais, em que existem atividades artísticas e culturais com a realização de espetáculos de danças tradicionais, música acústica e teatro”.

O director indicou que existe, num dos municípios, uma artesã idosa que faz panelas de barro e vende ao longo da estrada, no valor de 200 e 350 kwanzas, respectivamente.

Para o responsável, aquelas panelas de barro têm um valor cultural elevado e rescenderam que quando se partilharam as fotografias, pessoas de outras paragens deslocaram-se ao local para adquirir o objecto e fazer o processo de produção.

Escritora Paula Russa defende registo de criadores na província

A escritora Paula Russa defendeu o registo de todos os fazedores de cultura das diferentes áreas, na província de Benguela.

Paula Russa, que conversou no encontro entre o diretor provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos de Benguela, Pascoal Luís, e os fazedores de cultura, disse que as prioridades são comuns para todos os artistas e devem ser canalizadas e se possíveis realizadas.

Com o registo, afirmou, vai ser possível saber “quantos somos”, o que se vai fazer, de onde surgiram e para onde vão.

Ao enaltecer o encontro, a escritora lembrou as palavras do Presidente António Agostinho Neto, isto é “nós somos e vamos fazer”.

Segundo a escritora, aquelas palavras diziam tudo, tendo exortado o actual responsável da Cultura local que conseguisse atingir os objectivos que os artistas pretendem.

Paula Russa lamentou o fato de alguns criadores, em certas graças, desligarem-se um pouco do setor, “porque a cultura em determinada ocasião deixou de ser cultura e passou, simplesmente, a cultura política”.

A escritora avançou que, como primeiro passo, o que a direcção da Cultura deve fazer é o registo de todos os artistas locais, para se saber quantos somos e para onde vamos fazer, pois só com dados estatísticos possíveis poderá-se equacionar os problemas da classe artística.

Paula Russa disse que é preciso fazer o levantamento das pessoas que fazem o trabalho com barro, cestaria, trabalho com cabedal e outras pessoas com boas iniciativas.

Ao desejar sucessos ao actual director provincial da Cultura, Paula Russa prometeu ao responsável que pode contar com a sua contribuição, salientando que está na província há 60 anos e conhece Benguela como a palma da sua mão.

A par de ser escritora, Paula Russa disse que está ligada à cultura desde 1976, e confessou conhecer “muito” bem o que é a cultura em Benguela, porque fez parte deste processo com várias figuras que dirigiram o sector da Cultura na província. Arão Martins – Angola in “Jornal de Angola”


Moçambique – Uma análise de Ungulani Ba Ka Khosa às eleições gerais de 2024

Para quem, como eu, tem acompanhado, ao longo de mais de quarenta anos, como professor e, acima de tudo, escritor, o percurso da Frelimo, em tanto que Frente de libertação de Moçambique e, subsequentemente, como Partido de orientação marxista, desembocando em Partido sem estratégia ideológica, estas eleições não me surpreenderam de todo


Ao acompanhar a leitura dos resultados feita pelo Presidente da Comissão Nacional de Eleições, veio-me à mente a durabilidade no poder de um outro partido do sul global, o PRI (partido revolucionário institucional), do México, que esteve no poder entre 1929 e 2000. 71 anos no poder. Longo e asfixiante tempo! As críticas que se faziam, nas sucessivas eleições, centravam-se na fraude eleitoral, na sucessiva repressão contra os eleitores, na sistemática violação dos princípios democráticos, na falta de lisura no trato da coisa pública. Tal e qual a nossa situação. 

A propósito, o grande Poeta e intelectual mexicano Octávio Paz, dizia, com a linguagem que lhe era característica: “Os moralistas escandalizam-se diante das fortunas acumuladas pelos antigos revolucionários, mas não reparam que a este florescimento material corresponde outro verbal: a oratória transforma-se no género literário de pessoas prósperas. Mais que um estilo é uma marca, um distintivo de classe.

Ao lado da oratória e das suas flores de plástico, triunfa e se propaga a sintaxe bárbara nos jornais; as inépcias nos programas de televisão; a desonra diária da palavra nos alto-falantes e nos rádios, a cafonice enjoativa da publicidade – toda esta asfixiante retórica, ao mesmo tempo nauseabunda e açucarada, de gente satisfeita e amodorrada por comer demais. Sentados sobre o México, os novos senhores e os seus cortesãos e parasitas lambem os beiços diante de gigantescos pratos de lixo florido.

Quando uma sociedade se corrompe, a primeira coisa que gangrena é a linguagem. A crítica da sociedade, em consequência, começa com a gramática e com o restabelecimento dos significados.”  Atenção intelectuais e sociedade civil! Li, algures, por entre os textos que circulam nas redes, uma máxima que me encantou e que restabelece, de facto, os significados: “O povo não é prejudicado pela greve. O povo está em greve por ser prejudicado.” 

É profundo. E é a resposta popular à recente política editorial dos média, e não só, em dar enfoque aos prejuízos económicos resultantes das manifestações. Uma manifestação, a ideia não é minha, li-a algures, é sempre um simulacro de revolução. Ela visa inquietar o poder, abanar os alicerces corroídos, provocar rupturas, e influenciar as decisões do governo. Não esqueçamos que o nosso modelo democrático funda-se na representatividade, na delegação do poder. Se a árvore que nos representa não dá frutos, é  preciso repensar na sua utilidade dentro do nosso espaço  vital.

No nosso caso, a população quer mudanças profundas, está cansada da esperança prometida, quer que a realidade do dia a dia mude radicalmente, em actos e propostas urgentes; mas o poder, anquilosado na cadeira que o sustenta há mais de 49 anos, não quer ver a realidade que está nas ruas. E isso pode ser fatal para um partido que já foi uma Frente de Libertação e que soube, a seu jeito, adaptar-se aos conturbados momentos da luta de libertação. Mas quando se transformou em Partido, a ortodoxia e o conservadorismo tomou as rédeas do que era o movimento de libertação. Afirmações desconexas e infantis do comandante geral da polícia, bem como o comunicado tão fora do tempo histórico, como o que foi proferido pela senhora Alcinda Abreu, em nome da Comissão Politica da Frelimo, revelam uma pobreza intelectual e ideológica tão confrangedora que me custa afirmar que a Frelimo está à deriva, desconectada da realidade, e muito longe de um ancoradouro sustentável. Mas está mesmo! 

Reencontrem-se e dialoguem com esta juventude que representa o Futuro. O futuro pertence-lhes! E a nós também. Ungulani Ba Ka Khosa – Moçambique in “Moz Entretenimento” com “Facebook”


Brasil – Lançamento do livro A voz dos sinos de Hugo Almeida em Belo Horizonte

A voz dos sinos é o décimo sexto livro do ficcionista mineiro Hugo Almeida (1952) e o primeiro de estudo literário.

Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (1976) e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (2005), organizou o volume de ensaios Osman Lins: o sopro na argila (2004) e, com Rosângela Felício dos Santos, Quero falar de sonhos (2014), reunião de artigos do autor de Avalovara. Organizou a coletânea de contos Nove, novena: variações (2016). A Editora Sinete publicou o seu segundo romance para adultos, Vale das ameixas (2024), que tem elos com a obra osmaniana. 

Hugo Almeida vive em São Paulo desde 1984. Editora Sinete – Brasil

“Escutando, não a mim, mas ao logos, é sábio dizer, no sentido do logos: tudo é um.” Essa é uma tradução possível de um fragmento de Heráclito de Éfeso. O filósofo convoca-nos a escutar algo cujo sentido sempre escapa nesse “um” que se desdobra em “tudo” pela linguagem (logos). O pernambucano Osman Lins (1924-1978) levou a sério tal convocação. Sua obra é uma das maiores na literatura brasileira, sempre explorando os limites da expressão humana e as possibilidades do que nos excede.

A pesquisa de Hugo Almeida é também um gesto de se pôr à escuta do sentido que ressoa nas grandes obras de arte. Esta série de ensaios livres apresenta análises detalhadas de temas e atravessamentos intertextuais decisivos para a interpretação da ficção osmaniana: elementos do sagrado, construção de personagens femininas e a configuração do amor no texto literário.

Leitor dedicado e estudioso da obra de Osman Lins, exímio escritor de contos e romances, Almeida oferece uma visão abrangente e meticulosa de toda a ficção de Lins. As análises são claras e acessíveis, proporcionando uma leitura prazerosa e iluminadora tanto para novos leitores quanto para especialistas da obra do autor.

A voz dos sinos é uma contribuição valiosa para os estudos literários brasileiros, especialmente no ano do centenário de Osman Lins. Este livro celebra o talento do escritor e inspira uma nova geração a explorar a riqueza e a profundidade de sua obra. Assim como Heráclito nos convoca à escuta do logos, Hugo Almeida nos convida a ouvir os dobres da linguagem na ficção de Osman Lins, revelando camadas de significado que continuam a escapar, fascinar e propiciar novos percursos na inesgotável procura pelo sentido. Harley Dolzane


terça-feira, 19 de novembro de 2024

Portugal - Cientistas da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto validam estratégia para proteger o castanheiro das alterações climáticas

Estudo liderado por investigadores da FCUP e do GreenUPorto provou a eficácia de estratégia que pode tornar o castanheiro mais resiliente aos efeitos das alterações climáticas

Em pleno mês do Magusto, uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável traz boas notícias para o futuro dos castanheiros: acabam de comprovar que a presença da relação simbiótica entre fungos e a raiz desta planta (micorrização) a torna mais resiliente aos efeitos das alterações climáticas. 

Embora sejam bem conhecidos os benefícios desta estratégia no aumento da absorção de água e de nutrientes pelas plantas e na mitigação do stress, este é um dos primeiros estudos a abordar esta questão numa situação de exposição a elevadas temperaturas e falta de água.

Os resultados surgem no âmbito do projeto “CASTANHEIRO vs ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS – o papel do stress priming e da micorrização (CC&NUTS)”, liderado pela equipa da FCUP e financiado pelo Programa Promove, uma iniciativa do BPI | Fundação “la Caixa” e da FCT. 

“Após cerca de dois anos de trabalho, comprovamos que a presença de fungos micorrízicos permite aumentar a tolerância de castanheiros jovens à falta de água e ao calor, ao modular várias respostas fisiológicas, relacionadas com a fotossíntese e com vias de defesa da planta”, começa por explicar Filipa Sousa, estudante de doutoramento do Plant Stress lab (GreenUPorto/FCUP), cuja tese se integra no âmbito deste projeto coordenado pela docente Fernanda Fidalgo.

Para este estudo, cujos resultados foram recentemente publicados na revista científica Plant Physiology and Biochemistry, os investigadores utilizaram plantas micropropagadas de castanheiro micorrizadas com um fungo autóctone (Paxillus involutus) oriundo de soutos portugueses.

De modo a mimetizar condições semelhantes às que ocorrem no campo, as plantas foram expostas durante 21 dias, a elevadas temperaturas, de 42ºC, em períodos de quatro horas diárias, e à secura (suspensão da rega até se atingir 25% da capacidade de retenção de água do substrato), para avaliação das respostas fisiológicas e bioquímicas, bem como da atividade fotossintética. 

Comparativamente a plantas não inoculadas com o fungo micorrízico, as plantas micorrizadas, quando sujeitas à exposição a altas temperaturas e falta de água, foram capazes de ativar mecanismos de defesa e de manter um estado hídrico adequado, permitindo uma maior produção de fotoassimilados, com consequências positivas no crescimento.

Uma outra estratégia em estudo: o stress priming 

Atualmente encontram-se em curso novos ensaios com o objetivo de estudar, também pela primeira vez em castanheiro, a eficiência de uma outra estratégia: o stress priming. 

“O conceito por detrás do stress priming baseia-se na ativação da memória vegetal, de modo a que a planta, aquando de uma nova exposição a condições desfavoráveis, consiga desencadear, de forma mais precoce, mecanismos de defesa”, aponta Cristiano Soares, investigador do projeto. 

Para preparar o castanheiro para condições de stress, que se preveem ainda mais severas no futuro, os investigadores estão igualmente a avaliar se a pré-exposição de castanheiros jovens a condições de secura moderada pode estimular mecanismos de memória, que possam mais tarde resultar em ajustes metabólicos e bioquímicos mais eficientes. 

“Embora preliminares, os resultados mais recentes sugerem que, efetivamente, os castanheiros são capazes de “recordar” eventos passados, permitindo-lhes reagir, mais prontamente, às condições de secura impostas”, comenta Fernanda Fidalgo.

Todo este conhecimento, que está a ser gerado em contexto de laboratório, será validado em condições de campo ao longo do projeto.

Este projeto, que arrancou em 2023, surge alinhado com os interesses de investigação de um consórcio multidisciplinar, que integra ainda investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), bem como a empresa Deifil – Green Biotechnology.

Da equipa da FCUP/GreenUPorto fazem ainda parte os investigadores Bruno Sousa, Mafalda Pinto, Maria Martins, Sofia Spormann e Pedro Mateus. Universidade do Porto - Portugal


UCCLA - Lançamento do livro “A Força da Razão: Carlos Menezes do Espírito Santo”

Vai ter lugar, no dia 3 de dezembro, às 18 horas, o lançamento do livro biográfico “A Força da Razão: Carlos Menezes do Espírito Santo” da autoria de Esterline Gonçalves Género, Embaixador de São Tomé e Príncipe em Portugal, no auditório da UCCLA.


Com a chancela das Edições Colibri, o livro será apresentado pela Embaixadora Paula Silva, Secretária-geral Adjunta da UCCLA.

O lançamento do livro terá transmissão, em direto, através da página do Facebook da UCCLA através da ligação:

https://www.facebook.com/UniaodasCidadesCapitaisLinguaPortuguesa

Sinopse:

“A Força da Razão: Carlos Menezes do Espírito Santo” oferece um olhar atento e actual sobre a vida e obra de Carlos Menezes do Espírito Santo, vulgarmente conhecido por Bené, uma das figuras de relevância intelectual em São Tomé e Príncipe. Esta biografia, de 200 páginas, é uma homenagem a um homem ainda vivo, cuja contribuição notável no campo cultural, académico, científico e humanista tem marcado uma franja considerável da população de São Tomé e Príncipe, como o próprio livro se encarrega de identificar.

O autor, Esterline Gonçalves Género, que não possui qualquer laço de parentesco com o biografado, propõe-se a desvendar as múltiplas camadas da personalidade e das realizações do Bené, revelando uma trajectória rica em feitos literários e académicos, que se destacam pela profundidade e compromisso com o pensamento crítico. Para compor este retrato, a obra contou com os testemunhos de mais de 40 personalidades de diversas áreas do saber, cujas vozes acrescentam uma perspectiva ampla sobre a influência e a complexidade do biografado.

Entre as páginas, são também abordadas as controvérsias que rodeiam o biografado, uma vez que nem todos os intelectuais são-tomenses partilham da mesma admiração por ele. No prefácio e nas conclusões, o autor reflecte ainda sobre uma particularidade das relações sociais e intelectuais no arquipélago: uma resistência à aceitação do mérito alheio, mesmo quando a evidência do valor é clara. Tal dinâmica é questionada como um entrave ao reconhecimento e à cooperação entre são-tomenses.

Esta obra, ao narrar a história de um dos maiores intelectuais vivos de São Tomé e Príncipe, convida os leitores a reflectirem sobre a importância do respeito e da valorização do outro, fundamentais para o progresso de qualquer sociedade.

Biografia do autor:

Esterline Gonçalves Género nasceu a 29 de abril de 1981, na Trindade, em São Tomé e Príncipe. É Doutor em Ciências Sociais na Especialidade de Desenvolvimento Socioeconómico da Universidade Técnica de Lisboa, Ministro Plenipotenciário do quadro diplomático são-tomense, Professor e Investigador na Universidade de São Tomé e Príncipe. Desde 2007, tem desempenhado diversos cargos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades. Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Autónoma de Lisboa. Fez Diplomacia em Madrid, Espanha, e Viena, Áustria. Tem publicado diversos livros académicos, como “A Diplomacia São-Tomense no feminino” (2022), “Trindade - Referências Biográficas D’Outrora” (2021), “Introdução à História Diplomática de São Tomé e Príncipe: rudimentos comedidos” (coordenador) (2019) e “São Tomé e Príncipe e o seu Futuro - Um olhar atento à União Africana” (2018) Novas Edições Acadêmicas, Volumes I, II e III.


Angola - Pepetela lamenta a desvalorização das línguas nacionais angolanas

O escritor Artur Pestana “Pepetela” lamentou, sexta-feira, em Lisboa, a desvalorização das línguas nacionais, que têm cada vez menos falantes


O escritor reflectiu, entre outros assuntos, sobre a questão da necessidade de políticas de promoção das línguas nacionais durante a sua intervenção na rubrica literária “Autor do Mês”, promovida pela Livraria Lello, sediada em Lisboa, Portugal.

“Estamos a perder as nossas línguas. A maioria das crianças angolanas só brinca, lê e fala em português”, lamentou.

Figura incontornável da literatura lusófona da atualidade, Pepetela foi o autor escolhido no mês de Novembro pela emblemática livraria portuguesa.

Moderada pelo jornalista português Sérgio Almeida, a sessão de conversa com o autor aconteceu na tarde de sexta-feira e contou com a presença de vários amantes da literatura deste autor que tem nas transformações da sociedade angolana a sua maior fonte de inspiração, que se expressa tanto em romances sarcásticos ou hilariantes. Em mais de uma hora de conversa, leitores e admiradores da obra do escritor angolano tiveram a oportunidade de ouvir e conhecer mais sobre a história e a contribuição de Pepetela para a literatura e cultura de língua portuguesa.

Um dos maiores escritores da língua portuguesa, Pepetela disse que escreve porque a escrita o ajuda a pensar melhor aquilo que vê, tendo argumentado que nunca quis ser professor, mas que acabou por ser na maior parte da sua vida, tendo leccionado no ensino universitário. O autor explicou que há mais de dez anos que já não dá aulas, uma profissão que decidiu por acreditar que lhe permitiria continuar a escrever.

“Ser escritor profissional tem as suas vantagens e desvantagens, como a falta do convívio com a classe de jovens com os quais cruzava quando dava aulas na faculdade. Comecei a escrever histórias com os 8 ou 9 anos de idade, ainda nas redacções escolares. Os professores entenderam-me apoiar, ao invés de me castigarem”, recordou.

Pepetela revelou que ao longo de décadas de carreira continua a escrever por prazer, sem permitir que isso seja um esforço, razão pela qual disse não “se sentir pressionado” em atender aos pedidos de admiradores e editores sobre novas sequências das obras já publicadas.  

Questionado sobre o espaço dominante que a música assume no panorama cultural em relação à literatura, Pepetela percebeu que este cenário é antigo. O escritor fez saber que a música sempre foi a expressão principal de manifestação, sublinhando que mesmo quando a escrita se desenvolve, a música já era um meio de grande relevância no país nos séculos passados.

Novo livro a caminho

Figura obrigatória da literatura angolana actual, Pepetela completou, no dia 29 de Outubro, 83 anos de vida, dos quais mais de metade dedicada a narrar em livros a história recente da vida do país. Na semana de comemoração de aniversário comunicou a notícia do lançamento do seu novo romance, intitulado “Tudo-Está-Ligado”, sob chancela da editora Dom Quixote, uma das mais prestigiadas da lusofonia. Segundo a sinopse, o novo romance Pepetela leva os leitores numa viagem que vai desde a formação dos reinos no Planalto Central à atualidade, explorando episódios pouco conhecidos da história do país. Ainda sem data de lançamento a história do novo livro inicia em Benguela, sua terra natal. O muito aguardado novo romance de Pepetela já está à venda nas livrarias portuguesas e marca o regresso do conceituado autor, seis anos após o seu último livro, “Sua Excelência, de Corpo Presente”.

Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos “Pepetela” nasceu em Benguela, em 1941. Licenciado em Sociologia, em Argel (Argélia), durante o exílio, foi guerrilheiro do MPLA, político e governante. Fez o ensino primário na sua cidade natal, partindo depois para o Lubango (Huíla), onde prosseguiu os estudos. Em 1958 foi para Lisboa ingressando no Instituto Superior Técnico onde frequentou o curso de Engenharia até 1960. Pepetela tornou-se militante do MPLA em 1963 e quando abandonou a vida política optou pela carreira docente na Faculdade de Arquitectura de Luanda onde deu aulas de sociologia. Traduzido em diversas línguas, em 1997 foi reconhecido com o Prémio Camões, a maior distinção literária da língua portuguesa. Tem publicado entre outros, os livros “As Aventuras de Ngunga” (1973), “Muana Puô” (1978), “Mayombe” (1980), “O Cão e os Caluandas” (1985), “Yaka” (1985), “Lueji” (1989), “Geração da Utopia” (1992), “O Desejo de Kianda” (1995), “Parábola do Cágado Velho” (1997), “A Gloriosa Família” (1997), “A Montanha da Água Lilás” (2000) e “Jaime Bunda, Agente Secreto” (2001) e “Sua Excelência de Corpo Presente” (2018). Na sua galeria constam ainda os prémios Correntes de Escrita, em 2020, Rosalia de Castro, do Centro PEN Galiza, em 2014, Nacional de Literatura (1981), Nacional de Cultura e Artes (2002), Especial dos Críticos Literários de São Paulo (1993), Internacional da Associação de Escritores Galegos (2007), Príncipe Claus da Holanda (1993) e Grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Algarve, conferido em 28 de Abril de 2010. Pepetela foi, igualmente, distinguido com o título de Doutor Honoris Causa, pelo Conselho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, em 2022. Katiana Silva – Angola in “Jornal de Angola”