Terminou
a 74.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, saem seus
diretores por cinco anos Carlo Chatrian e Mariette Rissembee. O traço principal
da Berlinale, como é também chamado o Festival, sempre foi de uma seriedade bem
alemã e com preocupações políticas e sociais, na escolha dos filmes.
O
cinema brasileiro sempre se beneficiou desse clima. Presenciei a conquista do
Urso de Ouro, no 48.º Festival de Berlim com Central do Brasil de Walter
Salles e me tornei assíduo, entrevistando, durante esses anos, realizadores e
atores brasileiros e criticando seus filmes.
De
certa forma, acompanhei a carreira de Carlo Chatrian, até domingo seu diretor
artístico. Conheci Chatrian como diretor do Festival de Cinema de Locarno, onde
sou assíduo há uns trinta anos. Por isso, fui dos muitos que se surpreenderam
com a decisão da ministra alemã da Cultura, Claudia Roth, de provocar sua
demissão.
O
término desta Berlinale talvez tenha sido o mais político desde sua criação,
com realizadores e atores premiados utilizando o momento de receber seu prêmio
para fazer declarações sobre a situação em Gaza, provocando reações do próprio
prefeito de Berlim, Kei Wegner, dizendo ter havido antissemitismo nas
declarações.
O
realizador norte-americano Ben Russell falou em genocídio e outros criticaram
os bombardeios na Faixa de Gaza. Com isso, roubaram as luzes do Urso de Ouro
conquistado pelo filme Dahomey, da franco-senegalesa Mati Diop.
Antes
mesmo de toda confusão criada no sábado, na entrega de prémios da Berlinale, a
ministra Claudia Roth já havia declarado que a nova fase da Berlinale deverá
ter mais paetês e mais glamour no tapete vermelho. Em outras palavras, deverá
ser menos político e mais “people”. Veremos se a nova diretora, a
norte-americana Trícia Tuttle irá seguir nessa linha.
Curta-metragem ganhou Menção Especial
A
curta-metragem brasileira Lapso, da realizadora mineira Carolina
Cavalcanti, selecionado entre centenas para a mostra juvenil Geração, do 74.º
Festival Internacional de Cinema de Berlim e competindo com outros 12 filmes,
recebeu a Menção Especial do júri, às vésperas do encerramento do Festival.
A
realizadora tem deficiência auditiva, assim como a atriz e seu filme se baseia
também nessa experiência pessoal de surdez. Além do problema social da
juventude que vive na periferia das cidades.
O
filme conta a história de dois adolescentes da periferia de Belo Horizonte,
cumprindo pena socioeducativa por terem praticado atos de vandalismo
Lapso tem como
atores Beatriz Oliveira e Juan Queiroz
O
júri explicou sua escolha num texto divulgado pelo Festival.
"Este filme é uma história de amor poderosa, mas única, de dois adolescentes. O que realmente brilha é a capacidade de inspirar o espectador a ter empatia por dois personagens que têm circunstâncias e desafios muito diferentes. Junto com eles, embarcamos numa jornada de aprendizagem que proporciona um vislumbre íntimo da vida de duas pessoas que o mundo não teve tempo de compreender. O filme é verdadeiramente uma celebração de como a coragem de compreender pode ser imensamente poderosa e superar barreiras". Rui Martins – Suíça
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Rui Martins –
Direto da Suíça – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante
a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes,
Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira
nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu
Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro
sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi
colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche
et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français
de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do
Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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