Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 3 de março de 2025

Portugal - Faculdade de Medicina da Universidade do Porto revela antidiabético promissor no tratamento da infertilidade

Descoberta poderá ter repercussões no tratamento de doentes com endometriose. Investigadores comprovaram benefícios de fármaco no modelo animal



A infertilidade em mulheres com endometriose está mais perto de ter tratamento. Um grupo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) identificou um fármaco que consegue reverter a infertilidade associada à endometriose, doença que impede muitas mulheres de serem mães, além de provocar dor e incapacidade.

A descoberta, feita em modelo animal, permite revelar mecanismos até aqui desconhecidos e abre caminho a novas abordagens terapêuticas na prática clínica, de acordo com o artigo publicado já este ano na revista científica Reproductive Biomedicine Online (RBMO).

Liderado por Delminda Neves, este grupo demonstrou que a metformina, um antidiabético oral usado há muitos anos na diabetes tipo 2 para controlar os níveis de açúcar no sangue (glicemia), é eficaz a tratar a infertilidade.

Mas não é tudo. Neste trabalho, que integra o Doutoramento em Biomedicina de Ana Catarina Neto, os investigadores da FMUP demonstraram outros efeitos benéficos do fármaco na endometriose, o que, no futuro, poderá levar ao seu reaproveitamento.

“A metformina não só aumenta a fertilidade, de modo estatisticamente significativo, como estabiliza o crescimento do tecido do endométrio com localização anormal (ectópico), aumenta a expressão de moléculas antioxidantes e diminui a fibrose (tecido não funcional típico das lesões endometrióticas) no endométrio. Isto é muito promissor”, afirma Delminda Neves.

De acordo com a professora e investigadora da FMUP, o facto de este fármaco já ser usado na diabetes gestacional (diabetes que surge durante a gravidez) pode ser uma mais-valia. Atualmente, os tratamentos mais eficazes para a endometriose têm de ser descontinuados antes da gravidez. “É importante saber que, caso haja recomendação para a prescrição deste fármaco na endometriose, ele pode ser usado na preconceção e na gravidez”, indica.

A infertilidade associada à endometriose será explicada, pelo menos em parte, pelas características do endométrio, camada que reveste o útero e que, nestas mulheres, está alterado, o que dificulta ou impede a gestação, mas também por razões sistémicas, envolvendo diferentes órgãos e tecidos, como é o caso do tecido adiposo.

A equipa de Delminda Neves já havia constatado que o tecido adiposo visceral (na zona abdominal e pélvica) sofre alterações da sua forma e da sua função, como um aumento de moléculas pró-inflamatórias e um gasto mais rápido de energia (hipermetabolismo), tal como acontece no cancro, por exemplo. Publicada na revista científica Archives of Medical Research, esta conclusão resulta da análise molecular a tecidos de mulheres com endometriose, no âmbito de uma colaboração com a ULS S. João, e do trabalho desenvolvido por José Pedro Abobeleira, no Mestrado Integrado em Medicina da FMUP.

“Havendo outros órgãos a influenciar a progressão da endometriose, poderão surgir fármacos que tenham como alvo não somente a regulação de hormonas como o estrogénio, como acontece atualmente, mas que atuem também no tecido adiposo. A metformina é, por isso, um forte candidato”, acrescenta a investigadora.

O grupo vai agora tentar perceber se este fármaco, para além de controlar a endometriose, poderá ser utilizado também para prevenir a possível progressão para tumores, como o cancro do endométrio e o cancro do ovário. “Vamos continuar a estudar de que modo reagem ao tratamento as células de tecido humano, provenientes de mulheres com endometriose. Queremos entender se o efeito da metformina nas células em cultura é sobreponível ao que vimos no modelo animal”, indica.

A equipa que desenvolveu estes trabalhos é composta por vários cientistas da FMUP e do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto, nomeadamente, Alexandra Gouveia, Adriana Rodrigues, Henrique Almeida, além de Delminda Neves. Universidade do Porto - Portugal


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