Ao fim de quase uma
década de combate firme pela liberdade e pela democracia, Liberal fecha portas
no último dia deste mês. Não porque tenhamos cumprido integralmente a nossa
tarefa, não porque nos tenhamos desinteressado deste projecto editorial e da
luta sagrada pela liberdade de imprensa. Ou, muito menos, porque achemos que
Liberal deixou de ter espaço ou de fazer sentido. Pelo contrário, o jornal
ampliou o seu espaço, fez e faz cada vez mais sentido. Liberal é, sem margens
para dúvidas, a voz dos que sem ele jamais teriam voz.
Também não se trata
de termos sido acometidos por qualquer temor, ou que as tentativas de
intimidação e condicionamento dos nossos inimigos tenham abalado minimamente as
nossas convicções e frontalidade. Não, pelo contrário, a morte do Liberal
ocorre por responsabilidade directa de alguns dos nossos melhores amigos que,
ao mesmo tempo que nos dizem fazermos muita falta, contudo nos “asfixiam” não
pagando o que nos devem.
Atingimos o limite,
já não temos dinheiro para aguentar este barco porque os que nos devem não se
dignam pagar-nos. Foi um sonho lindo que chegou ao fim, trazendo à tona uma
realidade com que não contávamos. É certo que dos nossos amigos e dos
democratas não esperávamos favores. Mas esperávamos colaboração.
Dos nossos inimigos
não esperávamos facilidades. E tinham eles razões de sobra para nos
perseguirem… como o fizeram ao longo de todos estes anos. Afinal fomos nós que
denunciamos os seus truques e as suas trafulhices. Fomos nós que, utilizando
uma linguagem terra a terra, estragamos-lhes a festa. Denunciamos os seus
nepotismos, os seus roubos, as suas canalhices, as suas mentiras, as suas
fraudes, as suas utilizações de bens públicos para proveito próprio ou de
amigas… Denunciamos as suas incompetências, os grandes negócios de terrenos, os
favores aos amigos, os envolvimentos em actos corruptos, as delapidações da
coisa pública, as negociatas com estrangeiros, a utilização dos dinheiros
públicos em campanhas eleitorais e em associações amigas… Denunciamos,
denunciamos, denunciamos…
No início de Agosto
fizemos circular uma carta apelando à solidariedade de pessoas que sabíamos,
querendo, nos poderiam ajudar. Novo role de palmadas nas costas, garantias de
que o Liberal não iria fechar e promessas de ajuda logo a seguir. Continuamos à
espera!
Os democratas, na
prática, parecem não considerar importante uma voz consequente que se bata pela
democracia, pelo pluralismo e pela liberdade. E quem somos nós para contrariar
essa corrente? Da nossa parte tudo fizemos, mesmo quando parecia impossível.
Mas há limites intransponíveis. Como diz o poeta, atingimos o zero.
Portanto, caros
amigos, a não ser que aconteça um milagre para acorrer a necessidades
prementes, Liberal vai deixar de estar online
a partir das zero horas de 1 de Novembro, ironicamente, Dia de Todos os Santos.
E é pena que, por tão
pouco, se cale uma voz que pugna pela liberdade, pelo pluralismo, pela verdade
contra a corrupção, contra o nepotismo, contra a mentira, contra a propaganda…
Quando um jornal
morre, quando se cala uma voz insubmissa, a liberdade de imprensa fica mais
pobre e mais frágil a democracia. Liberal chega ao fim, mas a luta pela
liberdade e pela democracia continua por outros meios, com certeza. Redacção Liberal – Cabo Verde
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