A
nossa comunidade linguística perdeu um de seus mais brilhantes expoentes com o
falecimento do professor Evanildo Bechara em 22 de maio de 2025, aos 97 anos,
no Rio de Janeiro. Bechara deixou um legado indelével no estudo e ensino da
nossa língua, sendo reconhecido como “o maior especialista em língua
portuguesa, com fama que ultrapassa nossas fronteiras”, nas palavras de Merval
Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras.
A
sua produção intelectual foi vasta e influente. A “Moderna Gramática
Portuguesa”, publicada pola primeira vez em 1961, alcançou as 37 edições, sendo
continuamente atualizada polo autor. Outros trabalhos fundamentais incluem a
“Gramática Escolar da Língua Portuguesa” (2001) e “Lições de Português pela
Análise Sintática” (2004), obras que formaram gerações de estudantes e
professores.
Bechara
teve uma atuação académica destacada como professor titular e emérito da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense,
além de ter lecionado em prestigiadas instituições internacionais como as
universidades de Coimbra (Portugal) e Colónia (Alemanha). A sua abordagem
combinava o rigor científico com a acessibilidade didática, sempre enfatizando
a importância de relacionar pesquisa linguística com o ensino prático.
Atuação institucional e reconhecimentos
Eleito
para a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras em 2000, Bechara assumiu a
posição em 2001 e tornou-se uma figura central na instituição. Exerceu funções
como Diretor Tesoureiro e Secretário-Geral, além de presidir a importante
Comissão de Lexicologia e Lexicografia, responsável por obras de referência
como o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp).
Como
representante brasileiro nas negociações do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa, Bechara desempenhou um papel fundamental na padronização da escrita
nos países lusófonos. A sua atuação nesse processo refletia a sua visão de uma
língua unificada na sua diversidade.
Ao
longo da carreira, recebeu inúmeras honrarias, incluindo o título de Doutor
Honoris Causa pola Universidade de Coimbra e a medalha Oskar Nobiling da
Sociedade Brasileira de Língua e Literatura. Foi membro de prestigiadas
instituições como a Academia Brasileira de Filologia, a Academia das Ciências
de Lisboa e a Academia Galega da Língua Portuguesa.
Relação com a Galiza e visão sobre a língua
Ainda
que a sua principal contribuição foi no campo da gramática brasileira, Bechara
manteve um diálogo frutífero com pessoas estudiosas galegas que defendem a reintegração
do galego no universo lusófono. Em 2008, como representante da Academia
Brasileira de Letras, participou ativamente do lançamento da Academia Galega da
Língua Portuguesa em Santiago de Compostela, onde proferiu palavras marcantes: “do
ponto de vista linguístico, o galego é uma vertente desta realidade da língua
histórica que se chama língua comum […] o galego nunca se separou do português”
Esta
participação não foi isolada. Bechara já colaborava com o movimento
reintegracionista galego desde as décadas finais do século XX, tendo
participado de congressos e publicado na revista Agália da Associaçom Galega da
Língua (AGAL).
A
morte de Evanildo Bechara encerra um capítulo nos estudos linguísticos no
Brasil, mas o seu legado permanecerá através das suas obras fundamentais e das
gerações de professores e pesquisadores que formou. Como afirmou a Academia
Brasileira de Letras em nota oficial: “Nos despedimos de um dos maiores nomes
da educação e da linguística brasileira, mas o seu legado segue imortal”. In “Portal
Galego da Língua” - Galiza
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