Chama-se
H2OforAll e o grande objetivo deste ambicioso projeto
internacional, liderado pela Universidade de Coimbra (UC), é desenvolver um
conjunto de tecnologias inovadoras que atuem a nível da prevenção,
monitorização e descontaminação da água de consumo, garantindo a máxima
qualidade da água que bebemos, bem como normas orientadoras de apoio aos
decisores políticos, quer em termos de legislação, quer ao nível de
comportamentos a adotar pela população.
Para alcançar os objetivos propostos, o projeto, liderado por Rui Martins, do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), conta com quatro milhões de euros atribuídos pela União Europeia (UE) no âmbito do programa Horizon Europe. O H2OforAll arranca no dia 1 de novembro e tem a duração de três anos. Além de Portugal, envolve investigadores e empresas da Alemanha, Bélgica, Chipre, Espanha, Israel, Países Baixos, Polónia, Reino Unido e Suécia.
Genericamente,
as várias equipas do projeto vão desenvolver tecnologias vanguardistas de
monitorização da qualidade da água de consumo doméstico, de proteção das fontes
de água potável e de redução da quantidade de produtos de desinfeção nestas
águas.
Tendo
em conta os fenómenos severos provocados pelas alterações climáticas, como a
seca extrema, e a contaminação provocada pela ação humana, a deterioração das fontes
onde é captada a água que posteriormente vai chegar às nossas torneiras tende a
agravar, o que exige maiores quantidades de desinfetantes para garantir a
qualidade da água de consumo.
Esta
realidade, explica Rui Martins, torna urgente o desenvolvimento de novos
métodos e tecnologias que garantam, no presente e no futuro, «a segurança
máxima da água de consumo. Ao ser necessário utilizar cada vez mais cloro na
desinfeção de água potável, essencial para impedir doenças, uma das
consequências é a geração dos chamados subprodutos de desinfeção (DBPs, na sigla
inglesa), produtos químicos produzidos em resultado da reação entre os
desinfetantes e os compostos orgânicos presentes na água de origem».
Esses
subprodutos de desinfeção, se não forem identificados e controlados, «podem ser
nocivos para a saúde humana e para os ecossistemas», sublinha o cientista da
FCTUC. Um dos objetivos do projeto, avança, é justamente «prevenir a formação
desses DBPs, utilizando processos de pré-tratamento da água que consigam
remover compostos que lá se encontrem e que são promotores desses subprodutos
de desinfeção. Por outro lado, pretendemos desenvolver estratégias alternativas
de desinfeção inovadoras que não contenham químicos, utilizando, por exemplo, a
radiação ultravioleta, porque ao retirar o cloro ou diminuir a quantidade de
cloro a introduzir nas águas, reduzimos a possibilidade de formação de DBPs».
Ao
nível da monitorização, o H2OforAll propõe desenvolver soluções
tecnológicas que permitam controlar e acompanhar todo o percurso da água –
desde a captação até à distribuição. No
fundo, explica o líder do consórcio, «propomos encontrar mecanismos para
monitorizar o que se passa, a cada momento, na rede. Para tal, vamos
desenvolver sensores adequados para a monitorização da qualidade da água ao
longo de todo o circuito e, a partir dos dados recolhidos em vários países,
criar modelos capazes de prever o comportamento da água e dos DBPs ao longo das
cadeias de distribuição, para, caso seja necessário, aplicar medidas corretivas
atempadamente». Além disso, o projeto inclui também estudos de toxicidade dos
subprodutos de desinfeção, essenciais para avaliar o impacto dos DBPs, quer a
nível da saúde humana quer no equilíbrio dos ecossistemas.
Todas
as soluções tecnológicas desenvolvidas no âmbito do projeto vão ser testadas
numa instalação piloto criada pela empresa Adventech. Posteriormente, será
realizado um caso de estudo em ambiente real na empresa municipal Águas de
Coimbra, que é parceira no projeto. A escolha justifica-se pela «reconhecida
qualidade da água da Águas de Coimbra, o que nos coloca grandes desafios,
sobretudo ao nível de validação, ou seja, as tecnologias que desenvolvermos
terão de ser altamente sensíveis», assinala Rui Martins.
No
final do projeto, o consórcio vai ainda redigir um conjunto de recomendações
técnicas de prevenção, para evitar a contaminação das fontes da água de
consumo, e orientações que possam contribuir para a alteração de legislação
europeia nesta matéria e de comportamentos a adotar pela população. Os
investigadores acreditam que o H2OforAll terá um grande impacto,
permitindo «remediar os problemas ambientais atuais e futuros, que vão ser cada
vez mais graves pela escassez de água potável e devido a fenómenos climáticos
extremos».
Na
UC, o projeto envolve quatro centros de investigação: Centro de Investigação em
Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF), Centro
de Química de Coimbra (CQC), Centre for Mechanical Engineering, Materials and
Processes (CEMMPRE) e Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra
(INESC Coimbra), numa plataforma de cooperação entre os investigadores Rui
Martins, Luísa Durães, João Gomes, Igor Reva, Artur Valente, Paula Morais e
Nuno Simões. Universidade de Coimbra - Portugal
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