“Sal”
Água cega
na retina seca.
O sal
é o universo enroscado
é um cristal
no meu sangue.
No meu corpo de terra,
se afundam rios de
areia.
Dentro do peito,
um coração
escavado sem medida:
um poço vazio num oco
morto.
No sal,
guardo a sede do Sol:
água seca
na retina cega.
O que aprendi do rio:
a eterna vocação de
alisar a pedra.
Mia Couto - Moçambique
In Vagas e Lumes, p.64 (Caminho)
_________
Mia
Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi
jornalista e professor, e é, atualmente, biólogo e escritor. Está traduzido em
diversas línguas.
Entre
outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado
para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula
como um dos doze melhores livros africanos do século XX), foi galardoado, pelo
conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o
Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi
distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo
seu romance O Outro Pé da Sereia. Jerusalém foi considerado um dos 20 livros de
ficção mais importantes da «rentrée» literária francesa por um júri da estação
radiofónica France Culture e da revista Télérama. Em 2011 venceu o Prémio
Eduardo Lourenço, que se destina a premiar o forte contributo de Mia Couto para
o desenvolvimento da língua portuguesa. Em 2013 foi galardoado com o Prémio
Camões e com o prémio norte-americano Neustadt. Em 2015 foi finalista do The
Man Booker Prize.
O seu
livro Compêndio para Desenterrar Nuvens ganhou o Grande Prémio do Conto
Branquinho da Fonseca APE | Câmara Municipal de Cascais | Fundação D. Luís I,
2023.
Já em
2024 obteve o Prémio Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México). In
“Wook”
Sem comentários:
Enviar um comentário