Esta
exposição inédita organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Ivo
Mesquita, busca enfatizar a produção de murais e painéis de Emiliano Augusto
Cavalcanti de Albuquerque Melo, (Rio de Janeiro, 06.09.1897 — Rio de Janeiro,
26.10.1976) dedicada à gente brasileira, como toda a sua obra. A brasilidade
moderna de Di Cavalcanti está impressa nos 23 trabalhos dispostos em ordem
cronológica “de 1925 a 1950” e “de 1950 a 1976”, nos quais pode-se perceber
como vai sendo construída a sua figuração, as estratégias no implante das
composições, as elaborações formais da sua plástica para essa arte.
A
mostra traz os painéis ProBel Trabalhadores (óleo sobre tela, 1955) e Brasil
em 4 fases (óleo sobre tela, 1965) e mais 19 pinturas (óleo sobre tela) em
grandes dimensões que aludem à mesma técnica e temas utilizados pelo artista
para a composição de murais e painéis. Entre as pinturas exibidas estão Serenata
e Devaneio, ambas de 1927, que preconizaram o primeiro mural modernista
brasileiro, criado por Di em 1929 para o Teatro João Caetano, o díptico Samba
e Carnaval, representado na mostra por duas reproduções em vinil na mesma
escala. Para que o público possa identificar essa produção, quase impossível de
ser transportada, a exposição conta com uma linha do tempo que recupera datas e
locais em que as peças foram instaladas.
Conforme
a pesquisa de Mesquita, após os murais para o Teatro João Caetano – que ainda
permanecem lá -, Di Cavalcanti realiza mais três outros na década de 1930: no
Cassino do Quartel do Derby, no Recife, na Escola Chile, no Rio de Janeiro,
ambos em 1934 e pintados diretamente na parede, e o painel para o Pavilhão da
Cia. Franco-Brasileira de Cafés na Exposição Internacional de Artes e Técnicas
na Vida Moderna, em Paris. Este último parece estar desaparecido, mas ganhou
medalha de ouro no evento enquanto o do Cassino do Derby foi destruído pelos
militares em 1937, período em que o artista depois de preso, exilou-se na
França (1936 e 1940). A grande produção dessa arte por Di Cavalcanti se desenvolve
no início da década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a
rápida industrialização do país e a construção de um Brasil moderno e
democrático.
Como
aponta o curador, Di Cavalcanti no lugar da retórica dramática de outros
muralistas seus contemporâneos, privilegiou narrativas líricas e sensuais, em
formas e cores exuberantes. “Sejam esses murais paisagens com mulheres,
pescadores, operários, malandros ou candangos, em situação de festa ou
trabalho, transmitem sempre certa leveza em levar a vida, a despeito da
realidade social que evocam. É o artista inserido no coletivo, reconhecendo-se
como parte dele. Di Cavalcanti foi um grande vocal da gente das ruas, dos
mercadores e trabalhadores urbanos – incluindo as prostitutas –, de suas famílias,
pequenas alegrias, afetos, tragédias e desejos.”
Debruçado
sobre a obra de Di Cavalcanti, Mesquita em seu ensaio para a exposição reflete,
entre vários aspectos, sobre a relação do artista com os muralistas mexicanos,
Diego Rivera, Orosco e Siqueiros, iniciada em 1922 no Rio Janeiro, um ano antes
de sua primeira viagem à Paris, assim como com seu contemporâneo Portinari.
“Portinari configura o pintor heroico, solitário, militante, comprometido com a
gente humilde e despossuída, narrador eloquente da injustiça e da desigualdade,
que morre envenenado pelo chumbo de suas tintas. Di Cavalcanti, por sua vez,
foi um artista boêmio, o pintor das mulatas, do samba, do carnaval e das festas
populares, num mundo de formas sensuais, perverso, que, a seu modo, provocava o
maniqueísmo moralista das normas e regras sociais. Dono de uma alma brejeira,
hedonista, é o trovador da mestiçagem, o pintor que dá visibilidade à vida dos
invisíveis, à força de trabalho suburbana na base da sempre desigual sociedade
brasileira.”
Segundo
o crítico ainda, o caráter figurativo da produção de Di Cavalcanti destinada
aos edifícios e espaços públicos, com base no programa do Muralismo histórico,
representava um esforço contrário aos programas da arquitetura moderna,
racional e funcionalista, que se desenvolveu no Brasil sobretudo a partir da
Segunda Guerra Mundial, e que se associava a uma arte abstrata, autônoma, sem
narrativas, que se integrasse à lógica da forma e do espaço. “Daí que, talvez
por conta disso, entre o final dos anos 1940 e a década de 1960, seus painéis e
murais tenham sido mais encomendados para projetos em edifícios particulares do
que da administração pública”, completa. In “Vá de
Cultura” – Brasil
Exposição: Di Cavalcanti, Muralista
Preço:
Gratuito
Patrocínio:
Bradesco
Data:
02/jun - 17/out
Horário:
Terça a domingo, das 12h às 17h
Instituto Tomie Ohtake
Av.
Brigadeiro Faria Lima, 201, Pinheiros
Sem comentários:
Enviar um comentário