Nova tecnologia de ADN vai ajudar a separar e a analisar amostras complexas que contêm misturas biológicas da vítima e do agressor
Contribuir para a resolução de crimes
de agressão sexual, que afetam uma em cada 10 mulheres em toda a Europa, e que
aumentaram 10% em 2021-2022, é o grande objetivo do CapCell, um projeto
recentemente financiado com 4,5 milhões de euros pelo programa Horizonte Europa
do cluster CL3 Civil Security for Society e que tem como parceiro o Instituto
de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).
Denominado «Investigação inovadora de vestígios forenses
através da microfluídica e da genómica de uma única célula – CapCell», o
projeto será desenvolvido por um consórcio que envolve 13 parceiros (incluindo
o i3S) de oito países europeus, e será coordenado pela Universidade de
Maastricht, num esforço conjunto de institutos de investigação, agentes da
autoridade e parceiros da indústria para desenvolver novas metodologias que
revolucionem os métodos de análise de ADN para aplicações forenses. Em Portugal,
o projeto será coordenado pelas investigadoras Catarina Xavier e Nádia Pinto,
do Grupo de Genética Populacional e Evolução – enquadrado na linha de
investigação Models in Bioscience (MoBio) – do i3S, que vai receber mais de 200
mil euros para analisar e interpretar dados forenses.
O principal objetivo deste projeto europeu, explica Nádia
Pinto, é “desenvolver metodologias e respetivas ferramentas de análise que
ajudem a separar e a analisar amostras complexas que contêm misturas biológicas
de duas fontes distintas, a vítima e o agressor”.
Atualmente, os métodos forenses ainda têm dificuldade em
separar e analisar vestígios biológicos quando contêm células de vários
contribuintes ou quando as provas são escassas ou degradadas, levando a
resultados que não podem ser usados em tribunal. Isto significa que muitos
casos são arquivados e muitos crimes permanecem sem solução e as vítimas ficam
sem justiça. O CapCell pretende colmatar esta lacuna, fornecendo novas
tecnologias que tornem a perfilagem de ADN mais fiável, mesmo nos casos mais
complexos.
Recorrendo a tecnologias de microfluídica e genómica de
célula única, “vamos conseguir contornar as limitações das misturas de ADN e
identificar autores de crimes em casos em que os métodos convencionais
continuam a falhar”. Isto pressupõe, adianta, “o desenvolvimento de protocolos
específicos de sequenciação de nível forense, pipelines de análise de
dados e diretrizes de interpretação para se adaptarem às especificações de
célula única”, acrescenta Catarina Xavier.
Na sequência de todo este trabalho, explica Nádia Pinto,
será desenvolvido “um kit móvel com o objetivo de capturar, selecionar, isolar,
sequenciar e interpretar células individuais. Será o primeiro sistema forense
modular capaz de extrair e analisar células únicas a partir de provas de
misturas de ADN, permitindo gerar perfis de ADN de fonte única mesmo a partir
de amostras altamente complexas”. Uma vez concluído, o kit poderá ser adotado
por institutos forenses e autoridades policiais em toda a Europa no seu
trabalho diário.
Dentro do consórcio, o i3S irá co-liderar uma parte do
trabalho, juntamente com o Instituto Forense dos Países Baixos, dedicado à
análise e interpretação de dados. A vasta experiência do grupo de Genética
Populacional e Evolução do i3S, em particular na “análise estatística de
misturas e na conceção de pipelines bioinformáticos para a análise de
dados de sequenciação de nova geração segundo critérios forenses, será uma
contribuição valiosa para o consórcio”, sublinha Catarina Xavier.
Especificamente, o i3S estará envolvido no
desenvolvimento de ferramentas bioinformáticas e de diretrizes de interpretação
estatística dos dados de sequenciação de uma única célula, alavancados pela
aprendizagem automática para automatizar o processo forense. Esta participação
“num dos maiores e mais relevantes consórcios da área da investigação em
medicina legal e genética forense”, acrescenta Nádia Pinto, “demonstra
claramente o impacto que o grupo e o i3S têm na comunidade internacional de
investigação em genética forense”.
Sobre o cluster Horizon Europe
CL3 Civil Security for Society
O objetivo fundamental do cluster CL3 do Horizonte Europa
é “Proteger melhor a UE e os seus cidadãos contra o crime e o terrorismo”,
centrando-se na melhoria das metodologias de investigação forense europeias, na
recolha de provas e nos intercâmbios transfronteiriços. Nesta candidatura foram
apresentadas 126 propostas para oito tópicos (34,2 milhões de euros de
financiamento estimado).
No tópico 02 Open topic, foram submetidas 23 propostas,
tendo sido aceites para financiamento apenas três (13% de taxa de sucesso),
duas das quais com a participação do i3S através de investigadores do grupo de
Genética Populacional e Evolução – linha de investigação MoBio. Universidade
do Porto - Portugal
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