Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Portugal - Investigadoras do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde ajudam a desvendar crimes sexuais

Nova tecnologia de ADN vai ajudar a separar e a analisar amostras complexas que contêm misturas biológicas da vítima e do agressor


Contribuir para a resolução de crimes de agressão sexual, que afetam uma em cada 10 mulheres em toda a Europa, e que aumentaram 10% em 2021-2022, é o grande objetivo do CapCell, um projeto recentemente financiado com 4,5 milhões de euros pelo programa Horizonte Europa do cluster CL3 Civil Security for Society e que tem como parceiro o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).

Denominado «Investigação inovadora de vestígios forenses através da microfluídica e da genómica de uma única célula – CapCell», o projeto será desenvolvido por um consórcio que envolve 13 parceiros (incluindo o i3S) de oito países europeus, e será coordenado pela Universidade de Maastricht, num esforço conjunto de institutos de investigação, agentes da autoridade e parceiros da indústria para desenvolver novas metodologias que revolucionem os métodos de análise de ADN para aplicações forenses. Em Portugal, o projeto será coordenado pelas investigadoras Catarina Xavier e Nádia Pinto, do Grupo de Genética Populacional e Evolução – enquadrado na linha de investigação Models in Bioscience (MoBio) – do i3S, que vai receber mais de 200 mil euros para analisar e interpretar dados forenses.

O principal objetivo deste projeto europeu, explica Nádia Pinto, é “desenvolver metodologias e respetivas ferramentas de análise que ajudem a separar e a analisar amostras complexas que contêm misturas biológicas de duas fontes distintas, a vítima e o agressor”.

Atualmente, os métodos forenses ainda têm dificuldade em separar e analisar vestígios biológicos quando contêm células de vários contribuintes ou quando as provas são escassas ou degradadas, levando a resultados que não podem ser usados em tribunal. Isto significa que muitos casos são arquivados e muitos crimes permanecem sem solução e as vítimas ficam sem justiça. O CapCell pretende colmatar esta lacuna, fornecendo novas tecnologias que tornem a perfilagem de ADN mais fiável, mesmo nos casos mais complexos.

Recorrendo a tecnologias de microfluídica e genómica de célula única, “vamos conseguir contornar as limitações das misturas de ADN e identificar autores de crimes em casos em que os métodos convencionais continuam a falhar”. Isto pressupõe, adianta, “o desenvolvimento de protocolos específicos de sequenciação de nível forense, pipelines de análise de dados e diretrizes de interpretação para se adaptarem às especificações de célula única”, acrescenta Catarina Xavier.

Na sequência de todo este trabalho, explica Nádia Pinto, será desenvolvido “um kit móvel com o objetivo de capturar, selecionar, isolar, sequenciar e interpretar células individuais. Será o primeiro sistema forense modular capaz de extrair e analisar células únicas a partir de provas de misturas de ADN, permitindo gerar perfis de ADN de fonte única mesmo a partir de amostras altamente complexas”. Uma vez concluído, o kit poderá ser adotado por institutos forenses e autoridades policiais em toda a Europa no seu trabalho diário.

Dentro do consórcio, o i3S irá co-liderar uma parte do trabalho, juntamente com o Instituto Forense dos Países Baixos, dedicado à análise e interpretação de dados. A vasta experiência do grupo de Genética Populacional e Evolução do i3S, em particular na “análise estatística de misturas e na conceção de pipelines bioinformáticos para a análise de dados de sequenciação de nova geração segundo critérios forenses, será uma contribuição valiosa para o consórcio”, sublinha Catarina Xavier.

Especificamente, o i3S estará envolvido no desenvolvimento de ferramentas bioinformáticas e de diretrizes de interpretação estatística dos dados de sequenciação de uma única célula, alavancados pela aprendizagem automática para automatizar o processo forense. Esta participação “num dos maiores e mais relevantes consórcios da área da investigação em medicina legal e genética forense”, acrescenta Nádia Pinto, “demonstra claramente o impacto que o grupo e o i3S têm na comunidade internacional de investigação em genética forense”.

Sobre o cluster Horizon Europe CL3 Civil Security for Society

O objetivo fundamental do cluster CL3 do Horizonte Europa é “Proteger melhor a UE e os seus cidadãos contra o crime e o terrorismo”, centrando-se na melhoria das metodologias de investigação forense europeias, na recolha de provas e nos intercâmbios transfronteiriços. Nesta candidatura foram apresentadas 126 propostas para oito tópicos (34,2 milhões de euros de financiamento estimado).

No tópico 02 Open topic, foram submetidas 23 propostas, tendo sido aceites para financiamento apenas três (13% de taxa de sucesso), duas das quais com a participação do i3S através de investigadores do grupo de Genética Populacional e Evolução – linha de investigação MoBio. Universidade do Porto - Portugal

 

 


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