domingo, 7 de dezembro de 2025

“Poema da Praia Morena”










“Poema da Praia Morena”

 

Benguela

tinha tico-tico e colo-colo

nesse tempo

mesmo na Praia Morena.

E o Mar

escondia

jamantas terríveis.

E tinha

caranguejos,

santolas,

que a gente caçava com fisga.

Foi o filho do Rodrigues

despachante

que ensinou

Nada se perdeu

o búzio ali está na mezinha de cabeceira

zunindo histórias,

fazendo lembra

o menino que eu fui.

  

Ernesto Lara Filho – Angola 

In Seripipi na Gaiola (1970; Editora ABC – Diário de Angola)


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Poeta angolano, Ernesto Pires Barreto de Lara Filho nasceu a 2 de novembro de 1932, em Benguela, Angola, e morreu a 7 de fevereiro de 1977, em Huambo, Angola. Era irmão da escritora Alda Lara.

Depois de concluir o ensino secundário, escolheu Portugal para continuar a sua formação académica, tendo terminado, em 1952, o curso de regente agrícola, na Escola Nacional de Agricultura de Coimbra.

Deambulando por vários países da Europa, trabalhou muitas vezes em restaurantes e na construção civil, como operário, para fazer face às dificuldades económicas.

Depois de uma estadia mais prolongada por terras da contracosta africana, em Moçambique, regressou a Angola.

Fixando-se em Luanda, aí exerceu o jornalismo, paralelamente com a sua atividade de quadro especializado dos serviços de Agricultura e Florestas de Angola.

Jornalista prestigiado, assinou diversas reportagens e crónicas no Jornal de Angola, na página “Artes e Letras” do jornal A Província de Angola, no Diário de Luanda, no ABC, na revista Mensagem da CEI (Casa dos Estudantes do Império) e na revista Cultura (II).

Antes da independência do seu país, foi preso pela PIDE (Polícia Política de Intervenção do Estado) devido à sua atividade política e cultural de apoio ao movimento independentista, apoio esse bem patente na sua escrita jornalística e literária.

Em colaboração com Rebello de Andrade, dirigiu a Coleçcão Bailundo da qual foram publicados três livros de poesia.

Tendo sido extinta pela mão repressiva do regime colonial a revista Mensagem (1951-1952), não foi destruído, contudo, o desejo de continuar a dar voz às manifestações de carácter nacionalista.

Então fechadas as janelas abertas pelos “mensageiros” outras se abriram, de imediato, através da criação da revista Cultura II, publicada entre 1957 e 1961 e da qual foram publicados doze números.

Na verdade, esta geração, conhecida como a “Geração da Cultura”, vai retomar e aprofundar as temáticas empenhadas dos seus antecessores, continuando a denúncia da escravidão e da miséria.

Integrado nesta corrente, Ernesto Lara Filho, como muitos outros intelectuais angolanos seus contemporâneos, vai constituir-se como um importante pilar na luta contra o domínio colonial.

Preocupado e empenhado com os problemas da sua terra, cada vez mais agudizados, o autor entende ser necessário criar as condições para que todos possam, através da palavra literária, do estudo, da análise e da crítica, equacionar a realidade angolana.

Através de uma escrita eufemística e caracterizada por uma simbiose do português padrão e do português dos musseques, Ernesto Lara Filho vai construindo um edifício literário, assente nas traves-mestras da angolanidade, enquanto produto de uma cultura viva e que vive das tradições africanas.

O reconhecimento da sua obra é consagrado pela presença de muitos dos seus textos em diversas antologias literárias, publicadas entre 1957 e 1976, entre as quais destacamos Antologia da Poesia Angolana (1957); O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar,1961-1971 (1971) e No Reino de Caliban. Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa (1976).

Poeta cofundador da União dos Escritores Angolanos, escreveu os seguintes títulos: Picada de Marimbondo (1961); O Canto de Martrindinde e Outros Poemas Feitos no Puto (1964); Seripipi na Gaiola (1970); O Canto de Martrindinde (compilação das três obras anteriores, 1974).

As suas crónicas jornalísticas foram compiladas em 1990 sob o título Crónicas da Roda Gigante. In “Infopédia”



 

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